segunda-feira, 20 de setembro de 2010

O Martírio de Joseph Standing

Hoje mal conhecido, o martírio de Joseph Standing foi, na sua época, uma das mais conhecidas evidências de perseguição contra os membros da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. E ainda hoje, ele representa pelo menos um dos possíveis, embora não muito comuns, perigos do serviço missionário. Mais interessante, o evento pode nos faz pensar no nosso comportamento frente à perseguição e ameaça. Caso enfrentarmos tal dificuldade, como agiríamos?

Em março de 1878, Standing, de 24 anos, foi chamado para servir na Southern States Mission (Missão dos Estados do Sul), a qual incluiu os mesmos estados que rebelaram na guerra civil dos EUA. Esta foi sua segunda missão, pois Standing já tinha servido como missionário nos estados de Illinois e Indiana, começando em 1875. Como veterano, Standing foi chamado, junto com Matthias F. Cowley (mais tarde um apóstolo), como um "traveling Elder" (Élder viajante - semelhante a um líder de zona ou assistente ao presidente nas missões atuais).

Em Abril do ano seguinte, Standing foi designado como o presidente da conferência de Georgia (na época, uma conferência era como um distrito de missão é agora), e seu companheiro era um missionário recém-chegado de 22 anos, Rudger Clawson (também um apóstolo anos depois da missão). Os dois tinham muito sucesso nas áreas rurais do norte do estado de Georgia. Como era o costume na época, a maioria dos conversos imigraram para Utah, a fim de se juntarem com a Igreja.

A oposição local também surgiu em face aos esforços missionários, e as vezes chegou a violência. Standing reconheceu o perigo, como indicou numa carta ao Deseret Evening News de Salt Lake City:
A pessoa que viaja entre o povo do sul sabe que apesar de terem sido derrotados pelo Norte (na guerra civil), ainda há um sentimento de inimizade existente em seus corações, que só precisa de um pouco de brisa para inflamar as paixões para atos de carnificina e conflitos.


E Standing até pediu ajuda das autoridades civis para evitar um conflito. No 12 de Junho de 1879, ele escreveu para o Governador do estado de Georgia, pedindo ajuda:
"Estou plenamente consciente, meu senhor, que o preconceito popular é muito contra os Mórmons, e que há policiais menores que aparentemente piscaram para as condições das quais referi acima. Mas eu também estou ciente de que as leis da Geórgia são absolutamente contra a todas as ilegalidades. Elas estendem-se aos cidadãos do estado o direito de adorar a Deus segundo os ditames da consciência. Uma palavra ou uma linha do governador, sem dúvida, teria o efeito desejado. Ministros do Evangelho poderiam viajar sem medo de ser apedrejados ou de receberem tiros e as casas dos Santos não pode ser celebrado a despeito de todas as boas leis e da ordem ".

O governador respondeu que Élder Standing tinha razão, mas ele não fez nenhum anúncio sobre o assunto, e referiu o assunto ao procurador local.

Umas poucas semanas depois, Standing e Clawson estavam viajando da cidade de Varnell no caminho para Rome, Georgia quando uma dúzia de homens armados lhes abordaram. Um deles lhes disse:
O governo dos Estados Unidos está contra você, e não existe nenhuma lei no estado de Georgia para os Mórmons.

Esse grupo conduziu os missionários dentro de um bosque próximo a uma nascente. O líder do grupo disse-lhes: "Eu quero que vocês entendem que eu sou o capitão deste partido, e que, se os encontramos de novo nesta parte do país, vamos enfocá-los como cães." Mas apesar desta ameaça, parece que eles não queriam matar os missionários. Depois de uma hora de vis acusações lançadas contra os Mórmons e conversa bestial da turba, três dos homens exigiram que os missionários os acompanhavam.

Mas Standing conseguiu pegar uma pistola que um membro da quadrilha havia deixado descuidado por perto. Numa voz alta, ele mandou que eles se rendessem. Em resposta, Standing recebeu um tiro na testa, acima do nariz.

Em seguida, a quadrilha quase matou Clawson, o companheiro de Standing, também. Um membro do grupo apontou para Clawson e disse: "Dá um tiro naquele homem." Clawson cruzou os braços e disse: "Disparar". Enquanto ele manteu uma aparencia calma e serena, ele quase desmaiou na ansiedade do momento. Por razões desconhecidas, o mesmo homem que há momentos tinha mandado a quadrilha para disparar em Clawson agora disse: "Não disparem."

Clawson então examinou o corpo de seu companheiro, e outro membro da quadrilha então disse, "Isso é terrível, que ele deveria ter-se matado desta forma," alegando assim que Standing acidentalmente atirou em si mesmo ao levantar sua arma.

Clawson conseguiu permissão para buscar ajuda de um vizinho. Assim que ele podia, mandou um telegrama para o governador, dizendo "Joseph Standing foi baleado e morto hoje, perto de Varnell, por uma quadrilha de dez ou doze homens." Ele também mandou notícias para Salt Lake City, e em dias acompanhou o corpo na volta para casa.

O governador do estado ofereceu uma recompensa de $500,00 para "a captura dos assassinos do Élder Mórmon," acompanhado de treze mandados de captura emitidos pelo xerife local. Mas somente três da quadrilha foram acusados. Mas depois de três dias de processo, até esses três foram absolvidos pelo tribunal.

Mas o martírio de Joseph Standing permaneceu alguns anos na memória da Igreja. O profeta, John Taylor, deu um discurso funerário, e no próximo ano os jovens da Igreja puseram um monumento no túmulo. Em 1886 saiu o livro, The Martyrdom of Joseph Standing or, the Murder of a "Mormon" Missionary (O martírio de Joseph Standing ou, o assassinato de um missionário mórmon). Mais importante, seu companheiro, Rudger Clawson, foi escolhido para fazer parte do Quorum dos Doze Apóstolos em 1898, e assim estendeu a lembrança do martírio.

Até agora, a lembrança de Standing continua entre os historiadores e alguns líderes da Igreja. Outro monumento foi dedicado no sítio do martírio em 1952, e a propriedade foi doado para a Igreja, e continua até agora como um parque mantida pela Igreja. Também, um dos edifícios no centro de treinamento missionário em Provo, Utah tem o nome de Joseph Standing.

Mas hoje o evento está quase desconhecido entre os membros da Igreja. Que pena!

O que falta é saber como responder às questões levantadas por este evento. Dessas, o principal está nas ações de Standing. Poderia ele ter sobrevivido se não tivesse pegado na pistola da quadrilha? Ou se não tivesse os ameaçado? E se pudesse ter sobrevivido, poderíamos ainda chamar o evento de martírio?

Eu também gostaria de saber o que devemos pensar quando um missionário morre. É sempre martírio? Devemos honrá-lo sempre? Deve a Igreja reconhê-lo no público? (pois a Igreja não 0 faz agora!)

Apesar dessas perguntas, eu creio que Standing foi mártir, e sua história é digna de divulgar.

Enhanced by Zemanta

1 comments:

Antônio Trevisan Teixeira disse...

Desconhecia o incidente.

Como lidar com a violência é sempre um assunto difícil, mesmo a violência que vem de fora para dentro. Diferentes visões de mundo, ambientes culturais, etc., influenciam a maneira como cada um lida ou reage a isso.

O incidente em questão não pode ser comparado em termos históricos a incidentes violentos que possam ocorrer hoje aqui no Brasil, por ex., quando um missionário é atropelado ou morto por um ladrão. As motivações são diferentes. À época existia uma perseguição contra os mórmons que motivou a ação. Igualmente, a ação do missionário em tentar se defender de forma física refletia, imagino, esse mesmo conflito.

Postar um comentário