sexta-feira, 30 de julho de 2010

A lei da adoção - parte 2



Para Joseph Smith, a exaltação no reino celestial dependia da obediência a todos os mandamentos e o recebimento de todas as ordenanças do evangelho. Conforme tentei esboçar na primeira parte deste artigo, entre tais mandamentos e ordenanças estava a inclusão do indivíduo numa família, a qual seria formada pelos vínculos do matrimônio (homem e mulher) e da adoção (homem a homem). Esses dois tipos de selamento, em suma, deveriam ligar os santos mais fiéis em uma única família, a família de Deus, tendo Joseph Smith como um elo entre a divindade e os santos, estabelecendo na mortalidade a única estrutura que existiria na eternidade. Orson Pratt lembra o seguinte fato sobre a organização familiar futura:

Quem serão os súditos sobre os quais reinarão aqueles que forem exaltados no Reino Celestial de nosso Deus? Eles reinarão sobre os filhos do próximo? Oh, não. Sobre quem então irão reinar? Seus próprios filhos, sua própria posteridade serão os cidadãos de seus reinos; em outras palavras, a ordem patriarcal prevalecerá até as infinitas eras da eternidade, e os filhos de cada patriarca serão seus enquanto as eternidades passam. (Journal of Discourses 15:319-320)


Pelo selamento da adoção, um homem adulto era inserido na família de outro homem adulto, estabelecendo entre eles uma relação de pai e filho que deveria se prolongar pelas eternidades. Introduzida aparentemente em 1842 a um grupo chamado Quórum dos Ungidos, a lei da adoção ainda marcaria a experiência mórmon de modo mais explícito.[1]


O êxodo para o oeste e a lei da adoção

Foi essa organização familiar, construída através dos convênios da lei de adoção e do casamento patriarcal, que esteve à frente do êxodo de Nauvoo para as Montanhas Rochosas, através das companhias que conduziram a Igreja de Jesus Cristo para o futuro território de Deseret, hoje Utah. Não foi gratuitamente que a organização do êxodo foi chamada em uma revelação de "Acampamento de Israel" (D&C 136:1). "Israel" não evocava uma estrutura apostólica, mas uma organização patriarcal, familiar, tribal, a qual os pioneiros queriam restaurar. [2]

Os dois relatos abaixo, de John D. Lee e Wilford Woodruff respectivamente, mostram como os grupos que deixariam Nauvoo rumo ao oeste foram organizados por critérios familiares, em que a lei da adoção estava presente:

No inverno de 1845, reuniões foram realizadas em toda a cidade de Nauvoo, e o espírito de Elias foi ensinado nas diferentes famílias como o fundamento para a ordem do casamento celestial, bem como a lei da adoção. (Life of John D. Lee, p.165)

Eu, Wilford Woodruff, organizei minha companhia familiar esta noite na minha casa, consistindo de 40 homens, a maioria chefes de família. Aqueles que se uniram a mim entraram em um convênio com mãos levantadas ao céu de manter todos os mandamentos e estatutos do Senhor nosso Deus e me apoiar em meu ofício.

Este foi um dia importante na História da Igreja em um aspecto. O Presidente Brigham Young reuniu-se com sua companhia ou organização familiar ou aqueles que foram adotados a ele ou iriam ser e os organizou em uma companhia da qual poderá crescer um povo que pode ser chamado de a tribo de Brigham Young. (...) E eles entraram em um convênio com mãos levantadas ao Céu com o Presidente Young e uns com os outros para caminhar em todas as ordenanças e mandamentos do Senhor nosso Deus. (Wilford Woodruff’s Journal, Vol. 3, p.119) [3]


A lei da adoção e o casamento plural que haviam sido introduzidos pelo profeta aos membros do Quórum dos Ungidos e do Conselho dos 50, agora eram praticados de maneira mais aberta após o assassinato de Joseph e Hyrum Smith., dando uma nova colaração à igreja que buscava uma terra de refúgio no oeste do continente. Esses dois princípios seriam publicamente enfatizados e institucionalizados durante a liderança de Brigham Young em Winter Quarters ("Acampamentpo de Inverno") e depois no oeste. É em Winter Quarters que Brigham Young relata ter uma visão em que Joseph Smith lhe aparece e o instrui sobre os princípios de adoção. [4] Como observado por Gordon Irving,

(…) enquanto o selamento era uma doutrina aceita em 1844, os santos em geral tiveram pouca oportunidade de se familiarizarem em termos práticos com a doutrina do selamento antes da morte de Joseph Smith. ( Gordon Irving. The Law of Adoption: One Phase of the Development of the Mormon Concept of Salvation, 1830-1900. BYU Studies, n. 3, Spring 1974)


Uma vez que os selamentos não estavam reservados apenas aos vivos, devendo incluir os que estavam do outro lado do véu, além de buscar um pai digno que estivesse na linhagem do sacerdócio, um homem deveria ser também um elo para que seus próprios antepassados já falecidos pudessem entrar na família. Os antepassados – homens e mulheres - deveriam ser por salvos através do batismo e demais ordenanças realizadas no templo e então adotados como posteridade.

Aquele que na vida mortal realizava a ordenança salvava aquele que a recebia no mundo pós-mortal, tendo por isso que presidir sobre quem salvasse. Joseph Smith se referiu ao conceito de ser um salvador e presidir futuramente sobre aqueles para quem o trabalho do templo é realizado:

Use de um pouco de inteligência e sele todos os que puder e quando chegar ao céu diga a seu pai que o que você sela na terra será selado no céu. Eu passarei o portão do céu e reivindicarei o que eu selo e os que seguem a mim e a meu conselho. (Teachings of the prophet Joseph Smith, p. 340)


Este é talvez um dos sentidos com que Brigham Young referiu-se a Joseph Smith como um deus - tendo sido um elo entre o homem e a divindade para que seus seguidores fossem adotados à família de deus e salvassem seus ancestrais, Joseph se tornara um salvador ou deus para seu povo:

Se vocês descobrirem quem Joseph era, saberão tanto sobre Deus quanto precisam no presente; pois ele disse: "Eu sou um Deus para este povo". (Journal of Discourses 4:271) [5]



"Nossos mortos"

Através da lei da adoção, era dado aos santos o privilégio de tornarem salvadores de seus próprios antepassados. A afirmação de que "eles, sem nós, não podem ser aperfeiçoados – nem podemos nós, sem nossos mortos, ser aperfeiçoados" [3], recebia uma interpretação diferente da que tem hoje na atual teologia sud: os antepassados precisavam de um salvador que recebesse as ordenanças a seu favor e que se tornaria um elo para adentrarem a família ou reino de Deus. Estes antepassados redimidos pelas ordenanças do evangelho (caso as aceitassem) seriam então parte da posteridade daqueles que trabalharam por sua salvação.

Sobre o trabalho pelos mortos, ele [Joseph Smith] disse que na ressurreição aqueles por quem se havia trabalhado cairiam aos pés dos que haviam realizado o trabalho por eles, beijariam seus pés, abraçariam seus joelhos e manifestariam a mais grandiosa gratidão. Não entendemos que bênção essas ordenanças são para eles. (Horace Cummings, citado por N.B. Lundwall, The Vision, p. 141)


Até 1894, o trabalho de redenção dos ancestrais já mortos, ao contrário do que é realizado atualmente nos templos da Igreja sud, requeria que estes fossem adotados como posteridade daquele que realizava tal trabalho, o qual se tornava um salvador no Monte Sião:

(...) se eu tiver um pai falecido que nunca ouviu este evangelho, seria de mim requerido redimi-lo e então tê-lo adotado na família de algum homem e eu adotado a meu pai? Respondo que não. Se temos que realizar as ordenanças de redenção para nossos familiares mortos, então nos tornamos seus Salvadores; e se tivéssemos que esperar para redimir nossos parentes falecidos antes de poder nos ligar à corrente do Sacerdócio, nunca conseguiríamos. (Manuscript sermons of Brigham Young, 1:76)


O selamento entre as gerações, entre mortos e vivos, não precisava reproduzir a sequência de nascimentos; ao contrário, os antepassados se tornavam filhos e filhas, a posteridade daquele que os redimia através da obra vicária no templo. A adoção, portanto, tinha um duplo aspecto: o homem era ligado à família real de Deus e Seu Filho, através de Joseph Smith, sendo selado a ele ou a outro homem que já estive selado à sua família, qualificando-se, então, para servir como um elo nessa corrente para seus próprios ancestrais, os quais eram adotados a ele.


Adoção dos ancestrais interrompida

Muitos santos dos últimos dias não estavam contentes com a lei da adoção e a maneira como influenciava a obra de salvação dos seus mortos. No final do séc. XIX, antes de interromper completamente a adoção de ancestrais falecidos como posteridade dos membros vivos, a Igreja já havia deixado aos presidentes de templo a decisão sobre como instruir os membros nessa questão, de forma que muitos santos já estavam sendo selados a seus pais biológicos falecidos, mesmo quando estes não haviam sido membros durante a vida mortal. O descontentamento com a lei da adoção era partilhado por parte das autoridades gerais, incluindo Wilford Woodruff, terceiro presidente da Igreja.

A lei da adoção que havia nascido ao lado do casamento celestial plural, tinha agora seu fim logo após o Manifesto de 1890. Em 1894, Woodruff, decidiu que a ordem de selamentos dos ancestrais deveria ser revertida, seguindo a ordem natural e cronológica da árvore familiar. Assim como no caso do Manifesto, não houve o registro de uma revelação que corroborasse a decisão tomada, embora houvesse, em ambos os casos, a alusão a revelações divinas.

A decisão de Wilford Woodruff deixou, à época, as ordenanças vicárias mais semelhantes ao que é realizado hoje nos templos sud. A nova diretriz foi proclamada por Woodruff na conferência de abril de 1894:

(...) o dever que quero que todo homem que preside um templo veja realizado deste dia em diante e para sempre, a não ser que o Senhor Todo Poderoso ordene em contrário, é que todo homem seja adotado a seu próprio pai. (...)


No entanto, apesar de interromper a prática dos membros serem adotados a um outro membro vivo, Wilford Woodruff ensinou que o princípio de adoção a cabeça da dispensação deveria ser mantido, selando o último ancestral encontrado na história da família a Joseph Smith:

Queremos que todos os santos dos últimos dias tracem suas genealogias até onde puderem e sejam selados a seus pais e mães. (...) Quando chegar ao fim, deixe o último homem ser selado a Joseph Smith, que permanece à cabeça desta dispensação. (James R. Clarck (org.), Messages of the first Presidency, 3:256; ênfase nossa)


Também os critérios de dignidade não poderiam ser postos de lado, de acordo com a nova diretriz. Woodruff, na mesma mensagem, fala do caso de homicidas que porventura alguém pudesse encontrar na sua genealogia:

"Mas," alguém diz, "suponha que cheguemos a um homem que talvez seja um assassino". Bem, se ele é um assassino, deixe-o de lado e conecte-se com o próximo homem depois dele. Mas o Espírito de Deus estará conosco nesta matéria. (ibidem)


Nesses dois últimos pontos, temos uma diferença em relação à atual obra vicária sud, uma vez que a adoção a Joseph Smith ou outra pessoa fora da linhagem familiar é impossível e nenhum critério de dignidade pessoal é mais aplicado aos mortos. [66] Infelizmente, ainda não pude determinar quando a prática de adoção a Joseph Smith foi totalmente abandonada. [7]

Sob a presidência de Wilford Woodruff, entre 1889 e 1898, a Igreja viveu um período de profundas mudanças que alterariam para sempre a igreja estabelecida por Joseph Smith. Sob a pressão do governo norte-americano, a Igreja se viu no limite da existência tanto legal quanto física, onde os aspectos econômico, político e social de Sião foram atacados diretamente, de forma que abdicar da Ordem Unida, do governo teocrático e do casamento plural foi o preço pago pela americanização de Utah. [8]

Diferentemente do casamento plural, a lei da adoção era bem menos conhecida do público norte-americano e, com certeza, bem menos chocante. No entanto, as palavras de Woodruff parecem sugerir um elo entre a adoção e um passado recente que a Igreja tentava abandonar. Falando sobre as distorções que a lei da adoção havia sofrido desde o início, o presidente Woodruff faz referência a John D. Lee, o único membro da Igreja penalizado pelo massacre de Mountain Meadows, ocorrido em 1857:

(...) um homem saia por Nauvoo pedindo a todo homem que pudesse, "se você for adotado a mim, eu vou estar à cabeça do reino e você estará lá comigo". Agora, qual a verdade sobre isso? Aqueles que foram adotados aquele homem, se forem com ele, terão que ir aonde ele está. Ele foi um participante naquele terrível episódio – o massacre de Mountain Meadow [sic]. (idem)


A seguir, Woodruff passa a defender Brigham Young, afirmando que este não teve envolvimento algum nos episódios de 11 de setembro de 1857. Chama a atenção o fato do nome de Lee não ser pronunciado por Woodruff; tampouco é mencionada sua condição como filho adotivo de Brigham Young - o fato referido é que outros homens haviam sido adotados a Lee. [9] Tendo relembrado John D. Lee - executado 17 anos antes - como um exemplo do potencial perigo a que se submeteram os que se selaram a ele, o presidente Woodruff diz que

Homens estão a perigo às vezes ao serem adotados a outros, até saberem quem eles são e o que farão. [10]



O fim de uma era

Enquanto o Manifesto de 1890 não findou totalmente a prática do casamento plural na Igreja sud, colocando-a de volta à esfera não-pública, como nos dias de Nauvoo, a mudança na ordem de selamentos dos mortos e o fim do selamento de um homem vivo a outro não encontraram uma resistência semelhante que fizesse com que a lei original da adoção sobrevivesse tal como os selamentos plurais após 1890. As distorções do princípio de adoção e a conseqüente disputa de status entre membros, as dúvidas doutrinárias sobre o princípio, a impopularidade do mesmo entre membros em geral e algumas das autoridades gerais, entre outros fatores, formaram um contexto propício para que a adoção iniciada em Nauvoo fosse abandonada durante a era de conciliação com a sociedade americana que Wilford Wodruff estabeleceu.

Tendo sido um dos princípios pelo qual o êxodo para o oeste fora organizado, a lei da adoção estava também relacionada à tentativa de sair dos EUA e estabelecer uma nova nação independente para os santos dos últimos dias. Em seu discurso de conferência, a alusão ao episódio de Mountain Meadows e o nome não pronunciado de John D. Lee podem sugerir essa forte associação concebida por Wilford Woodruff entre a adoção e o passado recente da Igreja. Woodruff sentia a necessidade de colocar a Igreja numa situação segura, longe dos atritos com os EUA, suas turbas e governo, que ele e seu povo haviam vivido por tanto tempo. Havia também uma nova geração de membros da Igreja que desejavam a americanização do território e, talvez, uma Igreja menos exclusivista e menos presentes nos aspectos familiares. Afinal, Utah era um novo estado americano e deveria estar em paz com o povo americano, abraçando também parte de sua moral e costumes.

Do ponto-de-vista da história mórmon, a lei da adoção se revela um tópico ainda pouco explorado, parte em função da pouca documentação disponível sobre seus primórdios e seu ocaso. Mas permanece como uma forte expressão da ênfase patriarcal e familiar deixada por Joseph Smith durante seus últimos anos de vida. Com o fim da Ordem Unida, do casamento plural e da adoção, bem como o abandono de pretensões teocráticas, o aspecto apostólico acabou por sobrepujar o aspecto patriarcal na teologia sud, fazendo com que a Igreja hoje pregue e pratique apenas uma parte do mormonismo desenvolvido em Nauvoo.


* A foto que ilustra este artigo é do templo de St George, o primeiro templo construído em Utah, dedicado em 06 de abril de 1877.


NOTAS

1 Não há registro conhecido de uma revelação escrita sobre a lei da adoção, tampouco quando os primeiros selamentos desse tipo foram realizados pela primeira vez. A maioria dos historiadores concorda, no entanto, com o ano de 1842 como o início da prática. A instituição da prática em 1842 seguiu o início dos selamentos de mulheres a seu esposo, em 1841 (sendo o primeiro selamento registrado o de Louisa Beaman ao profeta Joseph Smith em abril daquele ano), e a administração da investidura (em maio de 1842).

2 Durante o despertar religioso nos EUA do século XIX, não eram poucos os grupos que buscavam um retorno à pureza da igreja cristã primitiva; porém, o primitivismo mórmon buscava muito além da igreja neo-testamentária, indo até o passado israelita e os patriarcas de tempos imemoriais.

Enquanto a autoridade necessária para a restauração da ordem apostólica havia sido recebida de três personagens do Novo Testamento – Pedro, Tiago e João - em junho de 1830 (D&C 27:12; 128:20), chaves pertencentes à ordem patriarcal foram outorgadas, em abril de 1836, por outros três personagens relacionados ao Velho Testamento - Moisés e Elias, o profeta (em inglês, “Elijah”) e um terceiro mensageiro (também chamado de “Elias” na tradução brasileira de Doutrina e Convênios; em inglês, “Elias”) representando a autoridade de Abraão (D&C 110). (Ainda que a identidade de Elias não seja claramente estabelecida, baseado em uma possível relação com D&C 27:6-7, é especulado que esse Elias possa ser Noé.) Mereceria mais atenção a relação entre a restauração dessas chaves a Joseph Smith e Oliver Cowdery no templo de Kirtland e o estabelecimento das ordenanças em Nauvoo.

3 Comparar com a revelação em Doutrina e Convênios 136:4.

4 Manuscript history of Brigham Young, Feb. 23, 1847; Fred Collier. Unpublished revelations, p. 106-107.

5 Talvez Joseph tivesse em mente um paralelo entre si e Moisés na passagem de Êxodo 4:16, quando o Senhor fala a Moisés: "E ele [Aarão] falará por ti ao povo; e acontecerá que ele te será por boca , e tu lhe serás por Deus". Para Joseph, ambos – Moisés e ele próprio – eram não penas profetas que falavam em nome de Deus mas cabeças de dispensação, o que lhes dava uma dimensão ainda maior no plano divino.

6 Atualmente, na Igreja sud, embora o batismo de um homicida não seja permitido em vida sem a aprovação da Primeira Presidência, o mesmo não se aplica às ordenanças vicárias. Mesmo que um membro se depare com o nome de um antepassado que tenha cometido homicídio, não há orientação para que o batismo no templo não seja realizado ou o indivíduo em questão não seja incluído nos selamentos entre as gerações da família.

7 A publicação História da igreja na plenitude dos tempos, usada como manual de estudo do Instituto de Religião, dá a entender que o princípio de adoção foi totalmente abandonado a partir de 1894, sem citar o fato de que a adoção de um membro da família a Joseph Smith fazia parte da nova política (p. 446-447). Tampouco Gordon Irving discute o fato em seu artigo The Law of Adoption: One Phase of the Development of the Mormon Concept of Salvation, 1830-1900, publicado no periódico BYU Studies em 1974.

8 Para o sentimento dos santos dos últimos dias sobre os EUA antes do estabelecimento de Utah, ver o artigo A viagem do navio Brooklyn, de Kent Larsen.

9 Em abril de 1961, a Primeira Presidência e o Quórum dos Doze se reuniram para discutir o status de membro de John D. Lee, executado por um pelotão de fuzilamento em 1877 por causa de seu envolvimento no massacre ocorrido 20 anos antes. Foi decidido que Lee deveria ter sua condição de membro e suas bênçãos restauradas. As ordenanças foram então realizadas no mês seguinte no templo de Salt Lake. Juanita Brooks. The Mountain Meadows massacre, p. 223; David L. Bigler. Forgotten kingdom: the Mormon theocracy in the American West (1847-1896), p. 179.

10 Apesar de sugerir que o selamento (ou adoção) aos próprios ancestrais mortos seja mais seguro, o presidente Woodruff aqui não aplica aos mortos o mesmo raciocínio sobre "ir aonde eles estiverem", desconsiderando o fato de que sua trajetória mortal é em muitos casos desconhecida dos seus descendentes. Tampouco ele desenvolve o tema da validade ou não do selamento, ou sua dependência da integridade dos indivíduos envolvidos.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Quero saber sobre....



Quais os assuntos, eventos ou personagens da história mórmon que você gostaria de ver discutidos neste blog?

Deixe aqui a sua sugestão.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

A lei da adoção - parte 1


Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, em mim, e eu em ti, que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste.

João 17:21



Introdução

Foi na cidade de Nauvoo, durante a década de 1840, que as ordenanças do templo atingiram uma maior elaboração, juntamente com as doutrinas que expressavam, incluindo os primeiros selamentos e a totalidade da investidura. Num distanciamento cada vez maior do cristianismo tradicional, a estrutura apostólica da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias via florescer uma estrutura patriarcal, com novos ensinamentos que incluíam a progressão eterna do ser humano, a origem de Deus como um homem mortal, a pluralidade de deuses ao longo das eternidades e a possibilidade do estabelecimento de unidades familiares que sobreviveriam à morte.

Joseph Smith pretendia estabelecer uma sociedade baseada em princípios divinos que englobassem cada aspecto da vida humana: no plano econômico, a lei da consagração e a Ordem Unida; no plano político, o estabelecimento do Conselho dos Cinqüenta; e no plano social, o estabelecimento de uma unidade familiar de grandes proporções, pelos princípios do casamento celestial (plural) e da lei da adoção. A adoção, como princípio doutrinário e ordenança do templo, talvez seja um dos aspectos menos conhecidos dos membros da Igreja sud contemporânea. para a implementação completa desses princípios, Joseph Smith estabeleceu outras estruturas, independentes da Igreja sud: o Quórum dos Ungidos e o Conselho dos 50. Antes da lei da adoção estar disponível para a maioria dos membros, ela foi introduzida ao grupo formado por cerca de trinta pessoas em Nauvoo, o Quórum dos Ungidos, também conhecido como Ordem Sagrada, para quem o profeta administrou as primeiras versões da investidura e dos círculos de oração.

Até 1894, os santos dos últimos dias foram ensinados sobre a lei da adoção, de acordo com a qual dois homens podiam ser selados como pai e filho dentro do novo e eterno convênio. Os selamentos entre as gerações, unindo pais e filhos, não deveriam necessariamente seguir a ordem genealógica ou biológica de uma família. Os santos poderiam ser unidos em uma única e grande família, tendo Joseph Smith como seu elo comum. A lei da adoção influenciava a vida familiar daqueles que a viviam em aspectos práticos e expressava a natureza fortemente patriarcal com que a liderança mórmon então começava a conceber o evangelho. Além disso, dava à doutrina de redenção dos mortos uma natureza distinta da que esta possui hoje em dia na Igreja sud.

Nesta primeira parte do artigo, tentarei mostrar o fundamento doutrinário da lei da adoção, algumas evidências de sua prática e a importância que teve na história mórmon. A adoção dos antepassados como posteridade dentro da obra vicária e a interrupção da prática durante a presidência de Wilford Woodruff serão analisadas na segunda parte.


Reino Familiar

Ao lado do casamento celestial plural, a lei da adoção era um princípio fundamental na visão de Joseph Smith para a construção do Reino de Deus sobre a terra. Este foi um ensinamento que Joseph transmitiu aos seus amigos mais próximos durante seus últimos anos de vida. Segunda Juanita Brooks,

A “Lei da Adoção” surgiu do conceito de “reinos, principados e poderes” nos “Mundos Celestiais”. Joseph Smith teve selados a si alguns de seus mais fiéis seguidores, entre eles os primeiros membros do Conselho dos Cinqüenta, para ajudar a estabelecer o Reino de Deus sobre esta terra e partilhar de sua exaltação no porvir. (On the Mormon frontier, the diary of Hosea Stout. University of Utah Press, 1964, p. 178, n. 50; tradução nossa)[1]


No momento em que um homem não tivesse um pai digno portando o sacerdócio, ele poderia ser selado a outro, sendo que todos os selamentos nesta dispensação deveriam eventualmente ligar cada família numa única, tendo Joseph Smith como um patriarca comum e, através dele, ligar cada indivíduo ao Pai da raça humana, Adão.
A lei da adoção, entre outros elementos, prepararia os alicerces de um governo patriarcal e teocrático sobre a terra, o qual constituiria o próprio Reino de Deus profetizado nas escrituras e do qual Joseph se considerava um dos construtores:


Acredito ser um dos agentes no estabelecimento do reino visto por Daniel, através da palavra do Senhor, e é minha intenção estabelecer um alicerce que revolucionará o mundo inteiro. (Ensinamentos do profeta Joseph Smith, p.357)


Note-se que a Igreja de Jesus Cristo havia sido organizada em 1830, mas na citação acima, em maio de 1844, Joseph Smith fala do estabelecimento do Reino de Deus utilizando uma perspectiva futura. Joseph referia-se a uma organização distinta, para a qual era necessário restaurar os antigos princípios patriarcais. O Reino de Deus, para Joseph, não teria apenas um domínio eclesiástico, mas também social e político.

B. H. Roberts, historiador da Igreja, fala da distinção entre a Igreja e o Reino:


(...) é adequado ao leitor saber que Joseph Smith, quando falando estritamente, reconhecia uma distinção entre “A Igreja de Jesus Cristo” e o “Reino de Deus”. E não apenas uma distinção mas uma separação entre elas. (...) e [Joseph] efetuou a organização de um núcleo do Reino acima referido (...) (The Rise and Fall of Nauvoo, p. 180, 181)

Brigham Young explica que a base familiar para restaurar o governo do sacerdócio - no tempo e na eternidade - poderia ser estabelecido de duas maneiras:


Há dois grandes princípios pelos quais todos os seres inteligentes têm um direito legítimo para governar e possuir domínio; estes são por gerar filhos de seus próprios lombos e por ganhar os corações de outros que voluntariamente desejam seu exercício justo de domínio estendido sobre eles. (Brigham Young, Millenial Star 15:801-804, ênfase nossa)


Além da geração natural, biológica, de filhos dentro do convênio, o princípio da adoção também poderia trazer a um homem uma posteridade eterna, com homens dispostos a ingressarem em sua família como filhos.

Em 1873, Thomas B. H. Stenhouse explicava a lei da adoção nos seguintes termos:


Esta lei da adoção pressupunha que Joseph Smith havia sido escolhido e ordenado antes da criação do mundo para ser o cabeça e governante da “Última Dispensação”. Adão, Noé, Abraão, Moisés, Elias e Jesus tiveram cada um seu lugar na história do mundo como grandes homens a quem dispensações especiais haviam sido conferidas; mas a Joseph foi dada a “Dispensação da plenitude dos tempos”, a qual, ao harmonizar a obra dos profetas e apóstolos de todas as eras, deveria ser o coroamento da obra dos céus acima e da terra abaixo.

A declaração “nenhum homem vem ao pai senão por mim” era aplicada pelos apóstolos modernos a Joseph Smith, e agora a Brigham Young, e se ele tivesse mil sucessores seria igualmente aplicável a todos eles. (...)

Os apóstolos encontraram-se com os quóruns do sacerdócio e os ensinaram-lhes que “o reino” havia sido dado a Joseph, e que era necessário, para obter a salvação, que todos os santos fossem selados uns aos outros e finalmente a ele. (The Rocky Mountain Saints, p. 495-506)


Em seu relato, Stenhouse enfatiza o papel dos apóstolos na lei de adoção. Provavelmente, ele reflete o entendimento que muitos membros das Igreja tiveram da lei da adoção, quando o status passou a ser um critério importante. A adoção, no entanto, não dependia do ofício ocupado na Igreja sud e, como veremos na segunda parte, todo aquele que realizasse a salvação de seus antepassados mortos tinha que adotá-los como posteridades.
Para Joseph, sem ser selado a um pai, um homem colocaria em risco sua possibilidade de exaltação, uma vez que a única estrutura existente no mais alto grau do reino celestial seria familiar. Na mortalidade e na eternidade, esse pai – natural ou adotivo – seria seu superior na hierarquia do sacerdócio, a quem o filho deveria honrar eternamente.
Foi provavelmente com tal noção em mente que o apóstolo Orson Hyde representou graficamente o Reino à semelhança de uma árvore genealógica (ver imagem acima).

O diagrama acima mostra a ordem e a unidade do reino de Deus. O Pai eterno senta-se à cabeça, coroado Rei dos reis e Senhor dos senhores. Onde quer que as outras linhas se encontrem, senta-se um rei e sacerdote para Deus (...). Ele é um com o Pai, pois seu reino é somado ao de seu Pai (...). Tais reinos, que são um reino, são destinados a estender-se até não somente compreender este mundo, mas cada outro planeta que gira no firmamento azul do céu. (A Diagram of the Kingdom of God, Millenial Star, 09, 15 de janeiro de 1847, p. 23-24)


A exaltação, portanto, requeria a inclusão do indivíduo nesse reino familiar, para que fosse considerado um “herdeiro legal”. De outra forma, a jornada rumo ao mais alto céu do reino celestial não seria completa:

Uma coisa é ver o reino de Deus e outra é entrar nele. Devemos ter uma mudança de coração para ver o reino de Deus e aceitar as regras de adoção para entrar nele. (Joseph Smith, History of the Church 6:58; Teachings of the prophet Joseph Smith, p. 328; ênfase nossa.)


E para que isto acontecesse, como o cabeça da sétima dispensação, Joseph Smith seria o elo entre o próprio Deus e Seus filhos nesta terra, ligando dessa forma os dois lados do véu em uma única organização familiar.

Como em qualquer outra ordenança, o princípio de revelação é o que deveria governar a escolha, para saber onde o indivíduo deveria ser “enxertado” nessa grande árvore. Brigham Young, por exemplo, foi selado ao seu pai natural, e este último a Joseph Smith. Já John Taylor, apesar de seu pai natural ser um portador do sacerdócio, fala de Parley P. Pratt como seu “pai no evangelho” . [2]




NOTAS

[1] O Conselho dos Cinqüenta era uma organização cuja existência não era de conhecimento dos membros em geral, formado por esse número aproximado de homens, tendo Joseph Smith à sua frente como Profeta, Rei e Sacerdote. Designado por revelação como “O Reino de Deus e Suas Leis com suas chaves e poder e julgamento nas mãos de Seus servos, Ahman Cristo”, foi a organização que esteve à frente da campanha de Joseph à presidência dos Estados Unidos e do êxodo para as Montanhas Rochosas, agindo de forma independente do Quórum dos Doze e da Igreja sud como um todo durante os últimos anos de Joseph.

[2] Nauvoo Diary of John Taylor, BYU Studies Vol. 23, no. 3, p. 86.

terça-feira, 20 de julho de 2010

A Nova História Mórmon

O escrever da história Mórmon tem sido quase sempre polêmico--até as últimas décadas as histórias Mórmons pertenciam a um de dois grupos: os escritos por membros fiéis e os escritos por anti Mórmons.

Cada um desses grupos interpretara a história segundo as suas ideias preconcebidas. Os anti Mórmons queriam mostrar que a Igreja ou foi criado por homem ou era do diabo, dependendo se o autor acreditou em outra religião ou era ateu. Essas histórias viram a Igreja como uma tirania e os membros indivíduos (salvo os líderes) não tinham importância até que "escaparam" e "expuseram" o Mormonismo.

As histórias escritas por Mórmons, por sua vez, queriam expor claramente a mão de Deus em todos os eventos, para fortalecer a fé e convencer os leitores da sua veracidade. Assim, essas histórias soam como os autos antigos, nos quais cada decisão é uma escolha entre o bom e o mal, e todos os caracteres ou tem chapéu branco ou chapéu negro.

Ambos desses tipos de histórias eram pelo menos incompletos. Os anti Mórmons consideravam muitos eventos como algo sem importância, pois não concordaram com seu ponto de vista. Os Mórmons não incluíram a experiência ou ponto de vista dos que saírem da Igreja por não poder ajudar em fortalecer a fé. No pior das histórias, os escritores até inventaram dados para fortalecer o seu caso.

Começando nos anos 1950s com obras como The Mountain Meadows Massacre (O massacre de Mountain Meadows) de Juanita Brooks e Great Basin Kingdom (Reino na Grande Bacia) de Leonard Arrington, muitos acadêmicos escreveram segundo uma nova filosofia, um que creram ser mais honesto e menos polêmico. Esta filosofia quer entender em vez de evangelizar. O historiador Richard Bushman a caracteriza como "uma busca de identidade em vez de uma busca de autoridade."

O resultado dessa filosofia é que as histórias incluem menos apóstatas e menos iludidos, e mais humanos. As experiências sagradas são ainda sagradas, pois as pessoas que receberam essas experiências acreditaram que eram sagradas--para os historiadores dessa nova filosofia o que importa não é se as experiências eram de Deus ou não (os fiéis e os que não acreditam poderiam discutir se são ou não sem fim), mas sim como as pessoas na época entenderam essas experiências. A motivação dos que saíram da Igreja poderia ser algo político, econômico, psicológico ou cultural bem como uma falha espiritual ou uma "libertação" (como os anti Mórmons a entenderiam).

Com esse ponto de vista, as figuras históricas agora tem características humanas, e os historiadores Mórmons podem ver as múltiplas influências que entram em decisões e eventos. E suas experiências devem ser entendidas como essas figuras históricas as entenderam. Eles são julgados pelas suas próprias padrões.

Essa "Nova História Mórmon" não é sem detratores. Dos membros fieis da Igreja vem os tradicionalistas, que vem essa nova filosofia como uma difamação da Igreja e do sagrado. Para esses tradicionalistas, a não se admita que as decisões das líderes antigas da Igreja tenham influências alheias à de Deus. Dos não membros vem os secularistas, que querem entender a história sem a influência de Deus, mesmo se as figuras históricas entenderam as suas experiências assim. Esses querem explicar uma visão, por exemplo, como uma alucinação ou algo inventada. Mas em geral, essa nova filosofia se aceita bem.

Para os leitores essa questão de filosofia determina muito sobre como se aceita os eventos da história. Para quem ver a Igreja como guiado só pela mão de Deus, ou os membros como os dos chapéus brancos, é muitas vezes difícil aceitar os erros ou as coisas más que fizeram. É também difícil, as vezes, entender como os dos chapéus negros possam fazer coisas boas.

Richard Bushman indicou que essa questão de filosofia não faz parte do evangelho: "Os princípios do Evangelho não apontam para uma só forma de descrever o passado… [Essas formas] não podem ser deduzidas a partir de doutrinas teológicas." No entanto, ele indica que o evangelho deve influenciar a filosofia que o historiador usa, "O historiador Mórmon deve perguntar-se que valores regem seus escritos? O que determina o seu ponto de vista da causalidade, seu senso de importância, e suas preocupações morais?"

Nós, os leitores, em reagir aos textos da história Mórmon que lemos, devemos perguntar-nos a nos mesmos se estamos estudando história, ou se estamos buscando evidências de qual igreja é verdadeira. E temos que nos lembrar de que é possível que o autor de um livro tenha um propósito diferente do nosso.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

A Viagem do Navio Brooklyn

No mesmo dia em que os pioneiros saírem de Nauvoo, Illinois, começando a grande caminhada que findou em Salt Lake City, um pequeno grupo de 240 Mórmons abordaram o navio Brooklyn no Porto de New York City com a intenção de encontrar com o grupo principal da Igreja em "Alta Califórnia." Sua viagem de 38.400 quilômetros é hoje reconhecida como a viagem mais comprida feita por um grupo religioso na história do mundo.

Embora os membros da Igreja nos EUA hoje se sintam muito patrióticos, nesse tempo não sentiam tanto. A Igreja enfrentou muita perseguição em quase todos os lugares em que se estabelecia. Quando os membros da Igreja fizeram esforços para conseguir compensação para suas perdas, os líderes da nação rejeitaram os seus apelos. O assassinato de Joseph Smith no meio da campanha para elegê-lo presidente dos Estados Unidos não ajudou o comportamento dos membros.

Assim, no 8 de Novembro de 1845, o Apóstolo Orson Pratt aviso os membros em New York City:
Irmãos Despertam! Sejam determinados a sair desta nação má antes da próxima primavera. Nós não queremos que nenhum Santo fique nos Estados Unidos depois daquela época... A Igreja nesta cidade é para sair, cada um e todos, ao oeste das Montanhas Rochosas entre esta e a próxima temporada, seja por terra ou por água.[1]
O líder dos membros em New York City, Samuel Brannan, de 27 anos, anunciou, nos dias depois do Natal de 1845, que tinha fretado o navio Brooklyn, um velho navio mercantil para carregar os santos de New York para "Alta Califórnia."[2] Para pagar o aluguel do navio ($1,200 por mês para uma viagem de 6 meses), Brannan fixou o custo da passagem em $75 por adulto e $37.50 por criança. O navio foi também modificado com 32 camarotes para os passageiros.[3]

Depois dessas preparações, o navio saiu no 4 de Fevereiro de 1846, rota à América do Sul. Já no quarto dia de viagem encontrou dificuldades, pois uma tempestade violenta ameaçou o navio. O capitão do navio, Abel W. Richardson, disse aos seus passageiros que a tempestade era o pior que ele já tinha visto. A tempestade empurrou o navio perto da costa perigosa das ilhas de Cabo Verde, e no porão, os Santos cantaram hinos para tentar abafar o ruído da tempestade. Quando a tempestade finalmente diminuiu, os Santos deram graças ao Senhor, e puseram luto para os sete passageiros, que morreram na tempestade.[4]

No dia 3 de Março, passaram o equador, e as velas ficaram flácidas, sem vento. Durante a calmaria o navio ficou sem mexer e o tempo tinha muito calor e umidade. Finalmente, depois de dois dias, o vento voltou, e o navio seguiu a costa leste da América do Sul até Tierra del Fuego. Durante esses dias três outras crianças morreram. Mas também nasceu um filho a Sarah Burr, a quem ela deu o nome de John Atlantic Burr.[5]

Embora passaram o perigoso Tierra del Fuego sem dificuldades, logo depois, rumo à Valpariso, Chile onde pretendiam comprar mais comida e água, encontraram uma nova tempestade. Nessa a Laura Goodwin, grávida com seu oitavo filho, caiu abaixo de uma escada. A caída causou trabalho de parto prematuro do qual ela e o filho morreram. Antes de morrer, ela apelou à sua família que não a enterrassem no mar, e assim quando o navio, arrastado pela tempestade, aportou na ilha de Juan Fernandez (500 quilômetros ao oeste de Chile), ela foi ali enterrada. O sermão de enterro foi o primeiro sermão Mórmon pregado na América do Sul.

A compra de água e comida na ilha de Juan Fernandez foi muito mais barato do que teria sido em Valpariso, e depois de 5 dias em terra firma, o Brooklyn saiu rumo ao norte e as ilhas Sandwich (hoje conhecido como Havaí). Essa parte da viagem foi muito mais fácil, e os Santos alegraram-se com o nascimento de Georgiana Pacific Robbins, dado o nome 'Pacífico' pelo oceano no qual nasceu, mesmo como fizeram com John Atlantic Burr no oceano Atlântico.

Quando chegaram no porto de Honolulu no 20 de Junho, descobriram que o seu propósito de sair dos Estados Unidos seria frustrado, pois os Estados Unidos haviam declarado guerra contra o México e o navio de guerra Congress estava no porto. Aprenderam que a "Alta Califórnia" estava sendo ocupada pelas forças armadas dos Estados Unidos.[6]

O comandante do Congress encorajou-os para continuar a Califórnia, sugerindo que os Mórmons podiam segurar a vila de Yerba Buena (hoje San Francisco) para os Estados Unidos. Depois de um debate (uns querendo voltar ao leste dos Estados Unidos, outros pensando que seria melhor seguir para Oregon, reivindicado pelos Estados Unidos e pela Inglaterra na época), os Santos decidiram continuar.

O líder dos Santos, Brannan, até pensou que o Brooklyn podia ser o primeiro navio Americano para chegar na baia de San Francisco, e logo depois do 4 de Julho, começou a preparar os homens do seu grupo com exercícios militares. Mas quando o Brooklyn entrou na baia no 31 de Julho, através do nevoeiro viam a bandeira Americana no navio de guerra Portsmouth, o qual chegou três semanas antes do Brooklyn. Ao ver a bandeira, Brannan, desanimado por não ter chegado primeiro, exclamou, "maldita bandeira."

A chegada do Brooklyn alarmou o pessoal do Portsmouth, até que podiam ver que havia mulheres no navio. O comandante do Portsmouth logo entrou no Brooklyn para conhecer os Mórmons e disse-lhes: "Senhores e Senhoras, tenho o prazer de lhes informar que estão nos Estados Unidos."

Os Mórmon entraram na comunidade e a vila logo se tornou quase uma vila Mórmon. Os bens materiais que trouxeram no Brooklyn incluíram as ferramentas necessárias para uma comunidade de 800 pessoas, e as armas, incluindo três canhões, o que alegrou o comandante, que temia um ataque do mar pelos mexicanos. O Brooklyn também trouxe uma biblioteca de centenas de livros e uma imprensa com papel e tinta suficiente para dois anos.

Brannan foi o primeiro líder religioso na comunidade e os membros fortaleceram a economia e desenvolvimento na área. Em Janeiro de 1847, havia já mais de 500 Mórmons na região. Vendo a clima agradável e como os Mórmons já dominaram a comunidade, Brannan logo viajou para encontrar-se com Brigham Young e o grupo principal dos Mórmons (ainda situado em Winter Quarters, Nebraska -- só chegaram no vale do Lago Salgado no 24 de Julho de 1847) para persuadi-los a continuar sua viagem até San Francisco. Mas Brigham Young não concordou.

A guerra com México terminou em 1848, e os Mórmons em San Francisco prosperaram. E Brannan prosperou mais que os outros, tornando o primeiro milionário na Califórnia. Usando a imprensa trazido no Brooklyn, ele fundou o primeiro jornal em Califórnia, o California Star. Continuando a servir como o líder local da Igreja, recebeu os dízimos dos membros, e assim aprendeu sobre a descoberta de ouro perto da cidade. Ele anunciou a descoberta na vila no 11 de Maio de 1848 e imprimiu a notícia no seu jornal, o qual mandou pelo correio para o leste dos Estados Unidos, desencadeando o famoso 'Gold Rush' (Corrida para ouro), no qual milhares de pessoas viajaram do leste dos Estados Unidos para Califórnia na esperança de ficarem ricos.

Enquanto a motivação do Brannan era gananciosa, acabou ajudando a Igreja em Utah. Os viajantes para Califórnia tinham que passar por Utah no caminho a Califórnia, e os membros da Igreja em Utah ganharam muito fornecendo bens e abastecimentos para os viajantes e ganhando os bens pesados que não mais queriam carregar na viagem. Esse Gold Rush também confirmou a decisão de Brigham Young, pois o crescimento de San Francisco era tanto que os Mórmons teriam muita dificuldade em manter a sua sociedade e evitar perseguição.

Em geral os Santos do Brooklyn ficarem por um tempo em Califórnia. No fim, mais ou menos um terço deles imigraram para Utah, geralmente em 1857 em resposta ao chamado do Profeta.

[1]Times and Seasons, 1 Dec 1845; Roberts, B. H., Comprehensive History of the Church, Vol. 3, Ch. 71, p. 39.
[2]Na época "Alta Califórnia" compreendia o que é hoje o oeste dos Estados Unidos -- principalmente os estados de California, Nevada, Arizona, Utah, Colorado e New Mexico.
[3]Everett, Amelia D., "The Ship 'Brooklyn'" em California Historical Society Quarterly, Vol. 37, No. 3 (Sep., 1958), pp. 229-240.
[4]Everett, "The Ship 'Brooklyn'"; op cit.
[5]Tiffany, Scott. "The Voyage of The Ship Brooklyn," The New York LDS Historian, Vol. 1, No. 1, Spring 1998.
[6]Alias, o grupo principal da Igreja ajudou, fornecendo solados para uma Batalhão Mórmon que encaminhou de Winter Quarters, Nebraska, atraves dos estados atuais de Kansas, Colorado, New Mexico, Arizona e California.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Misticismo versus ortodoxia na tradição mórmon


O mormonismo é uma tradição espiritual marcada por duas grandes tendências: o misticismo e a ortodoxia. Das revelações e outras experiências sobrenaturais de Joseph Smith até a formação de uma rígida estrutura que governa a Igreja em escala mundial, houve um longo caminho a ser percorrido, ao longo do qual a ênfase original na revelação direta e a responsabilidade individual de cada membro por sua orientação espiritual foi sendo relativizada. Ainda que não sejam palavras ou conceitos comumente usados entre os santos dos últimos dias, misticismo e ortodoxia estão presentes na história mórmon mais do que se poderia imaginar. Neste breve artigo, tentarei esboçar como essas duas tendências se manifestaram e manifestam na Igreja sud.


Uma religião mística e familiar

Joseph Smith nasceu em uma família marcada pela busca espiritual. Experiências místicas de seu pai e avô paterno, por exemplo, são alguns dos elementos que compõe o cenário em que se forma o profeta Joseph. A natureza mística original do mormonismo está portanto fortemente ligada à família Smith. “Antes de ser uma organização, o mormonismo era um despertar religioso particular em uma única família”, afirma D. Michael Quinn. [1] Marcado por esse ambiente, Joseph relatou durante sua vida ter diversas experiências espirituais, iniciando com a visitação recebida de Deus e Jesus Cristo durante sua adolescência, passando pela ministração de antigos profetas ressuscitados e o recebimento de diversas revelações divinas. Dessa forma, não seria exagero afirmar que o mormonismo constitui uma tradição religiosa fundamentada na experiência mística.

Um místico é uma pessoa que reconhece a realidade do mundo spiritual e comunga com ele. É uma pessoa que busca Sabedoria, Conhecimento, Poder e Favor de Seres espirituais. Esta é a própria essência do misticismo (…) [2]


Pela definição acima, aquilo que distingue o misticismo de outras expressões de religiosidade é a comunicação direta que o indivíduo estabelece ou tenta estabelecer com os seres divinos. Seu entendimento, portanto, transcende aquele obtido pela leitura dos textos sagrados porque provém de uma experiência direta. Sua comunicação com a deidade e seus mensageiros é o que o une ou re-une ao mundo celeste, cumprindo assim o significado literal da palavra religião: re-ligar.

Em Joseph Smith há uma ênfase na experiência espiritual de cada indivíduo, o qual não deveria depender da experiência alheia:

Ler a experiência dos outros ou as revelações dadas a eles, nunca pode nos dar uma visão ampla de nossa condição e verdadeira relação com Deus. O conhecimento dessas coisas só pode ser obtido pela experiência nessas coisas, através da ordenança de Deus estabelecida para este sentido. [3]



Joseph e sua luta contra a ortodoxia

Os ensinamentos de Joseph Smith se colocam em oposição à tradição protestante e a maior parte do cristianismo. Em sua visão mística, não havia espaço para o formalismo, a rigidez e um conjunto imutável de verdades. A verdade era vista por ele como eterna e infinita, não passível de ser confinada a um credo.

Questionado sobre as diferenças entre "os santos [dos últimos dias] e os sectários" (membros das diferentes denominações cristãs), Joseph Smith explicou que os últimos eram

todos circunscritos por algum credo peculiar, que privava seus membros do privilégio de acreditar em algo que não estivesse contido nele, enquanto os Santos dos Últimos Dias não têm um credo, mas estão prontos para acreditarem em todos os princípios verdadeiros que existem, à medida que são manifestos de tempos em tempos. [4]


A experiência espiritual direta é, assim, o extremo oposto da ortodoxia, cuja doutrina pode ser limitada a um conjunto finito de crenças. Muitos leitores talvez identifiquem as Regras de Fé como um credo mórmon. É importante aqui lembrar que elas não englobam a totalidade de crenças do evangelho restaurado e nem sequer foram originalmente escritas para os membros da Igreja, mas escritas por Joseph Smith como uma exposição das suas crenças aos leitores “gentios” de um jornal norte-americano. As Regras de Fé foram apenas canonizadas como escritura em 1890, na mesma conferência que propôs o Manifesto. Joseph nunca propôs um credo; ao contrário, ensinou sobre a necessidade de buscar constantemente a verdade, ao invés de cercá-la com um muro.

Lendo os ensinamentos de Joseph conforme registrados por ele e seus contemporâneos, pode-se ver claramente a evolução de seu pensamento. Joseph não permaneceu um “ortodoxo” em sua própria teologia, mas aprendeu e ampliou sua visão. A Igreja de Cristo formada em 1830 em Palmyra possuía doutrinas e organização totalmente diferentes da Igreja deixada por Joseph em 1844 em Nauvoo. Grande arte desse processo pode ser entendido como fruto das experiências que Joseph ao longo dos anos, incluindo obviamente suas experiências místicas que o levaram a conceber Deus como um homem exaltado e tantas outras doutrinas que chocaram (e ainda chocam) a cristandade e - não podemos omitir esta constatação - chocaram (e ainda chocam) muitos santos dos últimos dias. Joseph ilustra o homem descrito por Heráclito que não podia entrar duas vezes no rio: ele mudava a cada vez, assim como as águas que o recebiam.

Para Joseph, revelação divina e ortodoxia não podiam ocupar o mesmo espaço. Em referência ao drama que era encenado nos templos mórmons, Janice Allred explica como a ortodoxia era retratada como um substituto satânico à obtenção de revelação divina:

Pregas a religião ortodoxa? É uma pergunta de Satanás. A religião ortodoxa é o que ele oferece a Adão e Eva como um substituto para o que eles estão buscando. [5]



Uma ortodoxia mórmon

Essa percepção mórmon original sofreu uma forte transformação, à medida em que a Igreja construiu sua própria ortodoxia. Distante da liderança carismática de Joseph Smith, a Igreja sofreu ao longo do tempo mudanças cada vez maiores em sua hierarquia, a qual se passou a se assemelhar a uma burocracia, bem como mudanças doutrinárias, as quais tornaram a Igreja mais semelhante às denominações protestantes, sob a constante assimilação da Igreja pela cultura norte-americana. Pronunciamentos contendo a frase “Assim diz o Senhor” foram diminuindo até saírem de cena.

Um dos mais influentes apóstolos da Igreja SUD no século XX, Bruce R. McConkie, afirmou a necessidade de um pensamento ortodoxo entre seus membros:

No sentido verdadeiro, ortodoxia consiste em acreditar naquilo que está em harmonia com as escrituras. Portanto, a ortodoxia do evangelho requer a crença nas verdades que hão sido reveladas nesta dispensação através de Joseph Smith, e como são compreendidas e interpretadas pelos oráculos vivos que possuem o manto do Profeta.[6]


Ao mesmo tempo em que McConkie coloca as verdades reveladas através de Joseph Smith como um parâmetro de crenças corretas, ele acaba por limitar tais crenças à formulação contemporânea que recebem dos líderes eclesiásticos atuais, expressando o entendimento de que, como coloca Allred, a “ortodoxia no final depende de autoridade ao invés de verdade”.


Reescrevendo o passado

Característico dessa ortodoxia é a tentativa de reconstruir o passado, reescrevendo passagens da história mórmon hoje consideradas embaraçosas para os padrões contemporâneos sud, algo que tem sido refletido na história oficial da Igreja e suas publicações. Durante uma conferência geral de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, em outubro de 2006, o apóstolo Boyd K. Packer mencionou a história da Igreja nos seguintes termos:

Não precisamos nos desculpar pela história da Igreja. Tomem, defendam a história da Igreja e o evangelho de Jesus Cristo
(...).

A transcrição de seu discurso, no entanto, é lida da seguinte forma:

Defendam com firmeza a história da Igreja e não se envergonhem do evangelho de Jesus Cristo.[7]


A prática de editar discursos após conferências gerais não é nova. Esta mudança no discurso do Élder Packer, no entanto, é particularmente interessante pela supressão da frase “Não precisamos nos desculpar pela história da Igreja”, a qual é, na versão editada, transformada numa referência bíblica de não se envergonhar pelo evangelho. Tal ação sugere que, para os que editaram o discurso, a referência a não se desculpar pela história poderia instigar os membros a se perguntar quais seriam os fatos pelos quais surgiria a “tentação” de se desculpar.


Um misticismo sobrevivente?

Haverá ainda espaço para o misticismo em meio à ortodoxia vigente na Igreja SUD atual? Embora a doutrina e as práticas da Igreja contemporânea estejam marcadas pela ortodoxia, há que se reconhecer que ainda existe em algumas situações certa ênfase na experiência espiritual direta como, por exemplo, no incentivo que não-membros recebem de missionários para orar e descobrir a veracidade da mensagem que ouvem; no relato da Primeira Visão, tão enfatizado na obra missionária; também o templo oferece aos membros introspecção e simbolismo que incentivam a experiência mística.

Também é interessante notar o interesse de muitos membros por relatos não-oficiais de supostas experiências sobrenaturais como a famosa história dos “passarinhos verdes”, disseminada em anos recentes pela internet e referida em discursos em muitas capelas ao redor do mundo. Tal interesse talvez constitua uma tentativa de compensar a relativa falta de misticismo na estrutura oficial da Igreja, em contraste com o misticismo que se encontra nas origens da experiência mórmon. O mesmo poderia ser a motivação subjacente para o interesse em ufologia, teorias sobre intraterrenos e outras formas alternativas de pensamento que flertam com o sobrenatural.

Misticismo e ortodoxia ainda permanecem em uma relação dinâmica e conflituosa dentro da Igreja SUD. Ainda que o apelo de saber a verdade por si, através de Espírito Santo, seja a porta a de entrada para muitos conversos à Igreja, a existência de uma ortodoxia que se manifesta em crenças e doutrinas e se perpetua através de uma forte e inatingível hierarquia marca com cores fortes o mormonismo atual sud, relegando a experiência mística a um plano muito individual e discreto dentro da experiência religiosa de cada membro. Talvez seja apenas na sutil e sincera busca individual que o misticismo que esteve na origem da restauração do evangelho possa ainda ser sentido e experimentado.


REFERÊNCIAS

[1] QUINN, D. Michael. The Mormon hierarchy: origins of power. Salt Lake: Signature, 1994. p. 1.

[2] COLLIER, Fred C. The trinity. Salt Lake: Collier Publishing, 1997?, p. 01.

[3] EHAT, Andrew F. The Words of Joseph Smith p. 252

[4] SMITH, Joseph. History of the Church vol. 5, p. 215

[5] ALLRED, Janice. Do You Preach The Orthodox Religion? A Place For Theology In Mormon Community. Sunstone 15:2/23 (Jun 91)

[6] McCONKIE, Bruce R., Mormon Doctrine (Salt Lake City: Bookcraft, 1966), 550.

[7] http://www.lds.org/conference/talk/display/0,5232,49-1-646-31,00.html

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Livros de história mórmon -- em português

Catalog of the books which are forbidden in th...Image via Wikipedia

Em 1989, o livreiro Curt Bench criou uma lista dos 50 mais importantes livros mórmons até 1980. Até agora, só 8 desses livros foram traduzidos para o português. Pior, dos 11 livros na lista na categoria história e biografia, nenhum existe em português, e nem existe em português nenhum dos livros editados depois de 1980. O pouco que o público brasileiro SUD conhece da história da Igreja vem só dos manuais da Igreja.

Não quero dizer que esses manuais da Igreja não tem valor. Mas também não tem uma visão completa da história da Igreja -- só confrontam os eventos importantes para a vida espiritual e só os eventos mais importantes, devido ao pouco tempo disponível nas aulas. Também não quero dizer que os livros embaixo são proibidos de qualquer forma -- pois muitos desses livros foram editados pela Igreja mesmo, e alguns continuam sendo editados pela Igreja.

Mas, por não ser nativo do Brasil nem de outro país onde se fala português, não sei exatamente o valor que esses livros terão para o público brasileiro. Pode ser que alguns desses livros tem pouco valor para o público que fala português. Em geral tratam de história que ocorreu logo no início da Igreja, nos EUA e na Inglaterra. Até algumas doutrinas da Igreja (a poligamia, the gathering --i.e., "a coleta", o sacerdócio e os negros) não são mais partes da Igreja de hoje. Por isso, pode parecer que grande parte da história não tem tanta importância hoje. Mas creio que essa visão não está certa.

Para mostrar isso, vou embaixo mencionar a lista dos livros de história da lista do Curt Bench com um comentário sobre cada livro e seu valor. Assim os nossos leitores possam indicar quais livros parecem tem valor para o público que fala português. Em baixo está a lista dos livros:

  • Lucy [Mack] Smith. Biographical Sketches of Joseph Smith the Prophet, and His Progenitors for Many Generations. [Esboço Biográfico de Joseph Smith, o Profeta e seus progenitores, por muitas gerações]. (Liverpool, 1853).
    Escrito pela mãe de Joseph Smith, essa biografia muito pessoal e familar contem muitas detalhes da vida de Joseph Smith. Este livro foi objeto de muita controvérsia por causa do que os líders da Igreja SUD perceberam como erros. Corrigido várias vezes, tanto por autores da Igreja SUD como por autores da Igreja SUD Reorganizada, este livro foi últimamente editada numa edição crítica, Lucy's Book (O Livro da Lucy). Leia-o em inglês

  • Parley P. Pratt. The Autobiography of Parley Parker Pratt, One of the Twelve Apostles of the Church of Jesus Christ of Latter-day Saints. [Autobiografia de Parley P. Pratt, um dos doze apóstolos da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias] (New York, 1874).
    Pratt foi o mais literário dos líders iniciais da Igreja, escrevendo poesia, hinos, e o primeiro conto Mórmon. Publicado póstumamente, este livro foi a primeira obra de autobiografia Mórmon. Leia-o em inglês
  • Joseph Smith. History of the Church of Jesus Christ of Latter-day Saints, [A História da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias] Brigham H. Roberts, ed., 7 vols. (Salt Lake City, 1902-1932).
    Escrito a partir dos registros da Igreja por seu departamento de história, este livro abrange a história da Igreja até 1846. Atualmente é o livro mais citado na conferência geral da Igreja SUD. Leia-o em inglês
  • Joseph Fielding Smith. Essentials in Church History. [Elementos da História da Igreja] (Salt Lake City, 1922).
    Um resumo da história da Igreja escrito pelo apóstolo e, mais tarde, presidente da Igreja. É uma das histórias mais apologéticas da Igreja. Leia-o em inglês
  • B.H. Roberts. A Comprehensive History of the Church of Jesus Christ of Latter-day Saints, Century I, [A História Compreensíva da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, Século I] 6 vols. (Salt Lake City, 1930).
    Uma amplificação da história Roberts escreveu no começo do século, esse livro foi escrito para o centenário da Igreja em 1930. ©
  • John Henry Evans. Joseph Smith, An American Prophet. [Joseph Smith, Um Profeta Americano] (New York, 1933).
    A primeira biografia detalhada de Joseph Smith escrita para o público americano e publicado por uma editora americano grande. ©

  • Fawn M. Brodie. No Man Knows My History: The Life of Joseph Smith, the Mormon Prophet. [Ninguém Conhece a Minha História: A vida de Joseph Smith, o profeta Mórmon] (New York, 1945).
    Este inovador biografia é famoso como o primeiro para usar análise psicológica. Mas ele é também rejeitado por membros da Igreja em geral por sua suposição que Joseph Smith foi um fraude. No entanto, a qualidade das pesquisas feitas e os dados colhidos ainda faz essa uma biografia importante, pelo menos até o recém biografia Rough Stone Rolling (Pedra Áspera a Deslizar). ©

  • Juanita Brooks. The Mountain Meadows Massacre. [O massacre de Mountain Meadows] (Stanford, 1950).
    Tratando de um assunto tabu (pelo menos naquela época) para membros da Igreja, este foi o primeiro livro escrito por um historiador SUD para reconhecer a participação de membros da Igreja no massacre. É considerado como a primeira obra do chamado "Nova História Mórmon." No entanto, livros mais recéns sobre o assunto tem mais detalhes. ©

  • Leonard J. Arrington. Great Basin Kingdom: An Economic History of the Latter-day Saints, 1830-1900. [Reino na Grande Bascia: Uma História Econômica dos Santos dos Últimos Dias, 1830-1900] (Cambridge, 1958).
    A notável e inovador história escrita pelo primeiro historiador profissional para ser nomeado historiador da Igreja. É tambem a primeira história econômica dos Santos dos Últimos Dias. ©

  • James B. Allen and Glen M. Leonard. The Story of the Latter-day Saints. [A história dos Santos dos Últimos Dias] (Salt Lake City, 1976).
    A história da Igreja escrita durante o serviço de Leonard Arrington como historiador da Igreja (durante o período conhecido hoje como "Camelot"). Esta história foi escrito para membros da Igreja, enquanto o livro The Mormon Experience: A History of the Latter-day Saints (A experiência Mórmon: Uma história dos Santos dos Últimos Dias), foi escrito para não-membros da Igreja. ©
  • Edward L. Kimball and Andrew E. Kimball, Jr. Spencer W. Kimball. (Salt Lake City, 1977).
    Este livro foi a primeira biografia de um profeta vivo, dando aos membros da Igreja uma visão atual do profeta. Por ser escrito pelos filhos do profeta, este foi notável pela íntima olhada em sua vida. Também foi o primeiro de uma série de livros escritos sobre os profetas atuais. ©

© - esses livros requerem permissão do dono dos direitos autorais para serem publicados, mesmo em tradução. Os outros livros estão no domínio público em inglês.
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sábado, 3 de julho de 2010

O Livro de José

Quando Joseph obteve os dois rolos de papiros egípcios de Michael Chandler em Julho de 1835, ele disse que “um dos rolos continha os escritos de Abraão e um outro os escritos de José do Egito.” Joseph Smith, História da Igreja, 2:236, veja também artigos passados sobre O Livro de Abraão


Willian W.Phelps, seu escrivão, registrou em 1835:
Como ninguém podia traduzir estes escritos, eles foram mostrados ao Presidente Smith. Logo ele soube o que eram e disse que os ‘rolos de papiros’,  continham o sagrado registro guardado por José na corte do faraó do Egito e os ensinamentos do patriarca Abraão.Leah Y.Phelps, “Letters of faith from Kirtland”, Improvement Era 45 (Agosto de 1942): 529 veja também em Bruce A.Van Orden, ed., “Writing to Zion: The Willian W.Phelps Kirtland letters (1835-1836)”, BYU Studies 33 (1993):554

O apóstolo SUD Orson Pratt e o historiador da Igreja John Whitmer descreveram como Joseph concluiu que os dois rolos de papiros eram os escritos de José e Abraão da antiguidade. Pratt conta que:

O senhor Chandler apresentou-lhe os caracteres antigos, perguntando-o se ele[Joseph Smith] poderia traduzí-los. O profeta os tomou em suas mãos, retirou-se ao seu quarto e perguntou ao Senhor sobre eles. O Senhor disse-lhe que eram registros sagrados, contendo os escritos inspirados de Abraão quando estava no Egito, e também os de José, quando esteve no Egito... O Profeta Joseph Smith tendo aprendido o valor dos escritos antigos ficou ansioso em obtê-los e se expressou desejoso de comprá-losOrson Pratt, 25 de agosto de 1878, no Journal of Discourses, 26 volumes (London e Liverpool: LDS Booksellers Depot, 1854-86), 20:65.

Whitmer escreveu que: “Joseph o vidente, viu os Registros e que por revelação de Jesus Cristo poderia traduzir estes relatos, que davam conta dos nossos antigos patriarcas, muitos dos quais foram escritos por José do EgitoBruce N.Westergren, ed., From Historian to Dissident: The Book of John Whitmer (Salt Lake City: Signature Books, 1995), 167.

Albert Brown, um membro da Igreja de Kirtland, escreveu a seu pai em 01 de Novembro de 1835 de que alguns dos papiros continham:

A história de José enquanto esteve no Egito... Estes registros foram comprados pela Igreja e também as múmias e estavam agora em Kirtland. Eles compraram as múmias por causa dos registros e pagaram 2400 dólares por eles. Muitos dos estudiosos... foram capazes de dizer muito pouco sobre os mesmos e ainda assim Joseph sem nenhum conhecimento deste mundo pode lê-los e saber do que se tratavam.Albert Brown, 01 de novembro de 1835, em Christopher C.Lund, “A letter regarding the acquisition of the book of Abraham”, BYU Studies 20 (Spring 1980):403

Oliver Cowdery deu uma excelente descrição no periódico da Igreja, 'The Messenger and Advocate'' das gravuras nos “Registros de José”:

A representação da tripla cabeça divina...(foto acima)
 A serpente, representada andando, ou disposta de forma a ser capaz de andar, em pé diante de uma  figura feminina...
O pilar de Enoque, como mencionado por Josephus, está em cima do mesmo rolo (foto abaixo)
O final central do mesmo rolo, (registro de José) apresenta uma representação do julgamento.

Cowdery, mais a frente identificou o Livro de José neste artigo quando ele escreveu:  “Sobre o assunto dos registros egípcios, ou melhor os escritos de Abraão e José, eu devo dizer algumas palavras. Este registro foi caprichosamente escrito em papiro com tinta preta e com uma pequena parte em tinta vermelha, em perfeita preservação.Oliver Cowdery, “Egyptian Mummies”, Messenger and Advocate 2 (Dez.1835):234-236.

Quando onze pedaços da coleção de papiros egípcios perdidos foram redescobertas e obtidas em 1967, foi fácil identificar a fonte para o Livro de José. O rolo de Abraão não tinha tinta vermelha, não era bem preservado e era facilmente reconhecível pela Facsímile no.1. Em comparação, o segundo rolo era caprichosamente escrito, bem preservado e tinha caracteres em tinta vermelha. Destes onze papiros, os de número 2 e 4 ao 8 pertenciam ao segundo rolo. Os últimos cinco continham tinta vermelha e os de número 4 ao 5 foram claramente descritos por Cowdery no Messenger and Advocate. Egiptologistas determinaram que estes papiros eram originalmente conectados juntos antes de Joseph cortá-los em pedaços individuais. Baer, “The Breathing Permit of Hor”, 111, 111n3; Richard A.Parker, “The Joseph Smith Papyri: a preliminary report”, Dialogue 3 (summer 1968);86-88.

Os papiros 2 e 4 ao 8 pertenciam originalmente à Ta-Shert-Min, filha de Nes-Khensu, cujos rituais funerários consistiam em prepará-la para ser recebida na presença de Osíris, de acordo com traduções modernas. John A.Wilson, “The Joseph Smith Papyri: Translations and Interpretations” Dialogue 3 (summer 1968)

Isto levanta a questão não somente sobre a interpretação de Joseph Smith dos pergaminhos egípcios, mas também sobre a escrita “Egípcio Reformado” que ele diz ter copiado das placas de ouro em 1827-1829. Antes de comprar os papiros, Smith mostrou a Chandler “vários caracteres como àqueles de posse do Sr.Chandler, os quais haviam sido copiados das placas do Livro de Mórmon, contendo a história dos nefitas.Oliver Cowdery, “Egyptian Mummies” Messenger and Advocate 2(Dezembro de 1835):235

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