domingo, 24 de outubro de 2010

Os 25 anos do caso Mark Hoffman

Na manhã do dia 15 de outubro de 1985 a cidade de Salt Lake foi abalada, com a explosão de duas bombas cada uma matou um pessoa, Steven Christensen e Kathy Sheets. No dia seguinte mais uma explosão e então ficava claro que um assassino em série estava à solta e ninguém sabia quem seria sua próxima vítima. As vítimas das bombas eram Steven Christensen que era ligado a uma importante companhia financeira em crise, e a primeira idéia que se teve do atentado é que fosse motivado por vingança por acordos de investimentos mal-sucedidos, já a segunda vítima era Kathy Sheets, esposa de um ex-patrão de Christensen, mas quando a terceira bomba explodiu e por pouco não matou Mark Hoffman, o foco das investigações mudou drasticamente.



Mark Hoffman nesta ocasião era um bem conhecido negociante de documentos antigos ligados ao Mormonismo e História americana que se destacava por encontrar alguns documentos raros e interessantes. Mas foi por sua conexão com a história Mórmon e Steven Christensen, vítima das primeiras explosões, interessado em história Mórmon e suas intenções em juntar documentos antigos da Igreja logo ficava claro que os motivos destes atentados deveria ter algo haver com a história Mórmon. Logo esta coleção de documentos, conhecida como McLellin, talvez tenha sido o grande fator para estes atentados.

Diretamente do carro de Mark Hoffman, de onde a terceira bomba explodiu, vieram os primeiros indícios para a sua suspeita no envolvimento dos assassinatos e durante as investigações verificou-se de que se tratava de um falsificador de documentos, tais como:

A Bênção de Joseph Smith III, documento com bênção dada por Joseph Smith à seu filho Joseph Smith III aonde o designava como seu sucessor, presumidamente escrita por Thomas Bullock  e datada de 27 de janeiro de 1865, nela Bullock menciona que Brigham Young destruiu as outras cópias da bênção como forma de manter-se na presidência. Na ocasião em que Hoffman ofereceu para venda este documento à Igreja SUD esta não aceitou o valor pedido, no que insinuou oferecer à Igreja Restaurada, que acredita ser a verdadeira sucessora dos ensinamentos de Joseph Smith. Mediante este impasse o arquivista da Igreja SUD teria aceitado o pedido de Hoffman, que não satisfeito quis que o documento viesse à público como é possível ler nas manchetes do New York Times de Março de 1981 “Documento Mórmon levanta dúvida quanto à sucessão dos líderes da Igreja”

A Transcrição de Anthon,  uma folha de papel que continham alguns hieróglifos egípcios que era conhecido como o papel que Joseph Smith usou para copiar os caracteres das placas de ouro do Livro de Mórmon e entregou à Martin Harris que o levou ao professor Charles Anthon que os autenticou, um dos episódios mais conhecidos da história mórmon.

A Carta de Josiah Stowell,  uma suposta carta escrita por Joseph Smith à Josiah Stowell aonde ele explanava de forma abrangente seu envolvimento com caça à tesouros enterrados e magia branca nos anos anteriores ao seu chamado como profeta.

A Carta da Salamandra ou a carta da salamandra branca, uma carta que era supostamente escrita por Martin Harris à W.W.Phelps, onde ele relata como encontrou Joseph Smith e as diferentes estórias de como Joseph recebeu as placas de ouro. Neste relato ele menciona muitas crendices e supertições da época e não há relato de um anjo Moroni nas primeiras aparições à Joseph, que vai de encontro ao que é ensinado hoje na Igreja.

Estes são apenas alguns dos documentos que foram falsificados por Mark Hoffman, mas foram alguns dos mais polêmicos e neles se traduzia o grande desejo de Hoffman de trazer abaixo o movimento Mórmon e ainda obter lucro juntamente com este esforço. E também era um sério estudioso da história SUD,  sabia aonde as controvérsias se encontravam e as explorava através de suas falsificações que sabia que em algum momento estes documentos iriam vir à tona, também sabia que grandes colecionadores mórmons e de história americana iriam pagar por eles.

Ainda assim, foram vários meses de investigaçòes para a polícia até se descobrir que Mark Hoffman era o autor dos atentados, assim como suas falsificaçòes. Mas um ano depois ele foi sentenciado à pena perpétua depois de uma negociação para evitar a pena de morte, a condição foi de que Hoffman revelasse por completo suas ações quanto aos assassinatos e suas técnicas de falsificação, para que pudessem se prevenir contra novas ações no futuro, até este momento ele já tinha enganado muita gente, além dos peritos em falsificação.

Hoje em dia, Mark Hoffman cumpre sua pena na penitenciária de segurança máxima do Estado de Utah e ainda hoje em dia seu trabalho eventualmente aparece para desafiar o trabalhos dos peritos e estudiosos em história mórmon. Recentemente um depoimento relacionado ao Massacre em Moutain Meadows que intencionava em recontar a ordem dos eventos de uma forma mais ampla reacendeu a preocupação de mais documentos similares aparecerem no futuro.

Já há membros que se sentem traídos por este evento  e vêem o interesse da Igreja em adquirir estes documentos sejam verdadeiros ou falsos como uma forma de suprimir suas fontes históricas, já para outros uma das grandes questões neste caso Hoffman, era de que o mesmo se encontrou várias vezes com o profeta Spencer W.Kimball e Gordon B.Hinckley, este apóstolo na ocasião e outros membros do Quórum dos Doze e todos estes líderes, profetas, videntes e reveladores fracassaram em detectar as intenções e documentos de Mark Hoffman como fraudulentos e outros se incomodam com o fato de que os líderes da Igreja eram mais que discretos com a informação ou propositalmente eram vagarosos em cooperar com a investigação do assassinato e das falsificaçòes que a polícia tentava fazer. Ainda mais por se tratar de duas vidas que foram perdidas.

Em outubro de 1987, dois anos após os eventos a Igreja publicou na sua Revista de circulação mensal, a Ensign um artigo do Elder Dallin H. Oaks, membro do Quórum dos Doze, tirado de um discurso seu na Universidade de Brigham Young em 06 de agosto de 1987 intitulado “Eventos Recentes envolvendo a História da Igreja e documentos forjados

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Mórmons e maçons (e antimaçons também): um tema necessário

Eu consigo guardar um segredo até o dia do juízo final.
O segredo da maçonaria é guardar um segredo.
Joseph Smith

Foi na quarta ou quinta série que ouvi uma colega perguntar à professora de história se a maçonaria era a igreja do diabo. A surpresa que senti foi enorme, mas nada comparado ao que sentiria vinte anos depois, enquanto ensinava uma aula da Escola Dominical. Discutindo as combinações secretas narradas no Livro de Mórmon, alguém com décadas de experiência como membro da Igreja disse que a maçonaria se encaixava na descrição daquelas antigas conspirações.

Como filho e neto de maçons, na infância, via a maçonaria como algo divertido e atraente (com símbolos, segredos e roupas estranhas); ao longo dos anos, minha percepção continuou a ser sempre positiva, enxergando uma instituição benéfica tanto para maçons quanto não-maçons (com a prática da caridade e o incentivo para serem pessoas íntegras) e compatível praticamente com qualquer religião (uma vez que havia maçons de diferentes credos). Como adulto, longe de idealizá-la, fui capaz de ver seu aspecto humano, como o de qualquer outra instituição. Mas ainda levaria muito tempo para entender aquela pergunta ouvida aos 10 anos de idade como uma pergunta normal, a partir da perspectiva da nossa cultura.

Como um converso ao mormonismo, ao saber sobre a influência maçônica sobre Joseph Smith e ver no templo símbolos que conhecia como de origem maçônica, não senti nenhum conflito ou contradição, como sei que muitos sentem ou já sentiram. Ao contrário, pude sentir certo pertencimento ao ver símbolos que haviam sido incorporados ao meu imaginário pelo ambiente familiar e que ali tinham seus significados ampliados. Tampouco imaginei que um profeta não pudesse utilizar tradições já conhecidas para nelas encontrar verdades sublimes. Ainda levaria muito mais tempo, porém, para entender aquele comentário, feito na Escola Dominical, e reconhecê-lo como legítimo, dados o tratamento recebido pelo tema dentro da Igreja, a leitura promovida do Livro de Mórmon dentro desse contexto e a dificuldade que tem a maioria de nós, mórmons, de lidar de forma positiva com outras tradições ou organizações de natureza espiritual ou religiosa.

E para alguém familiarizado com a influência maçônica sobre Joseph Smith, foi interessante saber que a leitura antimaçônica do Livro de Mórmon - expressa por aquele membro na Escola Dominical - não era só possível, como historicamente havia existido e influenciado conversos de renome dos primórdios do mormonismo, como Martin Harris e William W. Phelps.

A conexão histórica entre mormonismo e maçonaria é um fato reconhecido por ambas as instituições e tem sido objeto de vários estudos. A profundidade dessa conexão, seus primórdios e desdobramentos, no entanto, parecem não ter sido ainda totalmente explorados pela grande maioria de maçons e mórmons interessados no assunto. Há, muitas vezes, um reducionismo que tende a explicar a iniciação de Joseph Smith na fraternidade maçônica como uma busca de proteção política – como na explicação da Igreja sud atual - ou uma cópia dos rituais maçônicos – de acordo com a visão de certos críticos do mormonismo, maçons ou não.

Em parte, tais limitações podem ser explicadas pela falta de compreensão que cada instituição tem da outra, pela necessidade de “defender” a si próprias, além da relativa falta de fontes primárias que lancem maior luz sobre a questão. Até mesmo mórmons que são também membros de lojas maçônicas muitas vezes optam por ignorar as complexidades e contradições da relação histórica entre os dois campos, optando pela mera apologia ou defesa, perante outros mórmons, de sua dupla filiação.

Entre muitos mórmons pode ser sentido um medo de lidar com informações que sugiram influências recebidas por Joseph Smith de seu meio, sua época e, especialmente, que sugiram que aspectos considerados únicos do mormonismo possam ter sido influenciados por outras tradições; ou, pior ainda, que Joseph Smith tenha deliberadamente incorporado ou feito empréstimos de conceitos e cerimônias de outras tradições ou organizações à sua volta. O receio provavelmente é de que tais informações possam comprometer a crença na origem divina da restauração e na posição de Joseph Smith como um profeta. Tal atitude contradiz a visão, tão presente no mormonismo, de que a inteligência e arbítrio humanos estão presentes no processo de aprender verdades divinas:


O mormonismo, talvez mais do que a maioria das religiões, reconhece o elemento humano no processo revelatório, seja ao iniciar aquele processo (D&C 9) ou prover as categorias conceituais e limites dentro dos quais uma dada revelação é entendida. O Livro de Mórmon prontamente reconhece "erros dos homens" em seu prefácio e as revelações em Doutrina e Convênios vêm dos servos do Senhor “em sua fraqueza, segundo o modo de sua linguagem, para que possam alcançar entendimento”, apesar da sua tendência a errar (D&C 1:24-28). Por que [esse mesmo processo revelatório que reconhece a iniciativa humana] seria diferente com as revelações sobre a obra do templo? (Armand L. Mauss, "Culture, Charisma and Change: Reflections on Mormon Temple Worship," Dialogue: A Journal of Mormon Thought 20 (Winter 1987):p. 79)



Caso levássemos ao limite do absurdo esse mesmo receio de que certas evidências históricas possam comprometer o testemunho sobre a divindade da restauração, seríamos levados a menosprezar a influência do texto bíblico sobre a família Smith, uma vez que a Bíblia era um texto comum aos diferentes ramos do cristianismo que Joseph Smith declarava serem distorções da verdade original. É claro que nenhum mórmon pensaria isso. Isso porque a utilização do texto bíblico não compromete a crença na origem divina do mormonismo, seja frente a críticos ou seus próprios membros. Não há nenhum dedo apontado nessa direção. Aparentemente, os aspectos que nos ligam aos demais ramos do cristianismo são enfatizados pela Igreja moderna, enquanto os aspectos mais distintivos das doutrinas e práticas mórmons, em particular do passado, tendem a ser negligenciados ou subestimados na história oficial. A influência dos rituais e da simbologia maçônica sobre a tradição religiosa inaugurada por Joseph Smith parece ser um desses aspectos marginais da história mórmon, ao menos no que concerne a versão ensinada e utilizada no cotidiano da Igreja.

Quando se fala da influência maçônica sobre Joseph Smith, o sentimento de perigo pode atingir seu ápice, uma vez que tal influência ainda hoje se reflete, ainda que com menor intensidade do que antes de 1990, nos rituais considerados mais sagrados da Igreja sud, realizados no templo. Provavelmente, os templos mantidos pela Igreja sud permanecem sendo o aspecto mais controverso do mormonismo, com sua natureza secreta e seletiva até mesmo para os próprios membros. O conhecido jogo de palavras que nega haver segredos no templo e ressalta o seu aspecto sagrado expressa tão somente uma concepção negativa da ideia de segredo, desenvolvida na Igreja moderna, e uma tentativa de desassociar as ordenanças de sua referência maçônica. Na prática, porém, requere-se do membro que recebe a investidura guardar segredo sobre certos elementos da ordenança.

Ao associar as cerimônias mais sagradas da religião mórmon, realizadas em um local que ainda gera certa desconfiança entre não-membros, a uma instituição que pode gerar desconfiança tanto entre membros quanto não-membros, a atitude defensiva encontra um terreno ideal para florescer. A ideia muitas vezes concebida, ainda que poucas vezes enunciada, é que ou Joseph Smith recebeu uma revelação sobre o templo ou fez empréstimos dos rituais maçônicos: uma coisa ou outra.


Aqueles que negam qualquer relação, ou argumentam que as semelhanças entre os dois [maçonaria e mormonismo] são superficiais, estão preocupados que o uso de rituais maçônicos por Joseph Smith seja inconsistente com seu papel profético. Outros se concentram nas semelhanças para fortalecer a ideia de que Smith fez muitos empréstimos da franco-maçonaria sem o benefício de inspiração. Esta abordagem “tudo ou nada” se combina com o segredo associado aos rituais para criar uma relutância em discutir o assunto em qualquer detalhe significante. (Michael W. Homer, "Similarity of Priesthood in Masonry": The Relationship between Freemasonry and Mormonism. Dialogue: A Journal of Mormon Thought 1994: p. 02)



Um autor maçom que nega a definição da maçonaria como uma “sociedade secreta” dá esta interessante definição do segredo para o maçom: “O segredo maçônico é em si mesmo um símbolo; e, como os demais símbolos maçônicos, ele veicula uma instrução”. Alguém, como Joseph, que estava familiarizado com as “denúncias” dos rituais maçônicos, talvez pudesse imaginar que os novos rituais realizados pelos santos dos últimos dias também seriam mais cedo ou mais tarde “revelados” ao público. Onde permanece o segredo numa era em que os recursos tecnológicos tornaram sua exposição ainda mais rápida e detalhada? Ao definir tal símbolo – o segredo - como o (grande) segredo da maçonaria, estaria Joseph Smith incorporando a mesma visão às ordenanças do templo mórmon? [1]

A dificuldade ainda se intensifica com a impossibilidade histórica de datar os rituais maçônicos a um período anterior ao século XVIII. Como em outros dilemas da cultura sud, armamos a própria armadilha ao colocar de lado qualquer outra fonte de “veracidade” que não seja histórica ou muito antiga. Como se o poder simbólico de narrativas e representações pudessem depor contra nós, caso não sejam antigas o suficientes para ser exibidas como fatos. Dessa forma, a riqueza – e, simultaneamente, a simplicidade – do simbolismo maçônico é desconsiderada como um dos meios disponíveis que Joseph Smith tinha ao seu redor para expressar conceitos e princípios dos rituais do templo.

Uma vez que profetas e religiões sempre surgem e são nutridos dentro de um dado contexto cultural, também dinâmico, não deveria ser difícil entender por que mesmo as revelações mais originais devem ser expressas na linguagem da cultura e biografia do revelador. (Mauss, ibidem: p. 80)



Mas qual o preço a ser pago com esse olhar seletivo que ignora uma influência tão importante do passado mórmon e que ainda se reflete em nosso presente? Em 1974, o historiador Reed C. Durham dizia que o estudo sobre a maçonaria e sua influência sobre o mormonismo constituía uma “chave para o futuro entendimento de Joseph Smith e a Igreja”. Sua afirmação sugere que nosso entendimento atual sobre a restauração e Joseph Smith é reduzido e corre o risco, quem sabe, de ser distorcido.

Durham, à época diretor do Instituto de Religião da Universidade de Utah foi censurado pelo Sistema Educacional da Igreja e nunca mais abordou o tema em público, num claro exemplo de como a discussão sobre a influência maçônica sobre o mormonismo estava longe de ser bem recebida pelos canais oficiais da Igreja. O chamado de Durham, porém, não foi em vão, de forma que muitos acadêmicos escreveram e têm escrito sobre o mesmo tema. As novas informações disponíveis, as novas perguntas formuladas e suas possíveis respostas estão longe, no entanto, de alcançarem a maioria dos membros sud.

Em nosso país, isso é ainda mais verdadeiro, uma vez que há uma carência de publicações em língua portuguesa sobre temas de interesse histórico e cultural. Também é necessário reconhecer que a cultura majoritariamente católica do país e sua rejeição histórica da maçonaria por questões políticas que remontam ao império parece marcar a cultura nacional, o que talvez torne os membros brasileiros da Igreja particularmente avessos a refletir sobre a conexão entre mormonismo e maçonaria.

Grande parte dos trabalhos sobre maçonaria e mormonismo foca o período de Nauvoo, quando uma loja maçônica é formada pelos mórmons na sua nova cidade e seu profeta é iniciado formalmente na ordem. No entanto, o contato de Joseph Smith com a maçonaria antecede em muito o período de Nauvoo. Sua introdução à maçonaria na década de 1840 foi “apenas o florescimento de uma relação que teve sua raiz no estado de Nova York antes da publicação do Livro de Mórmon”. (John E. Thomson, The Facultie of Abrac: Masonic Claims and Mormon Beginnings. The Philalethes Society, December 1982)

A restauração levada a cabo por Joseph Smith era "cósmica em seu alcance, que penetrava o espaço até os confins da terra e os limites exteriores do próprio universo". [2] Toda forma de conhecimento que pudesse aproximar o ser humano de seus progenitores celestiais pertencia ao mormonismo. A maçonaria foi vista por Joseph Smith como uma importante forma simbólica de conhecimento, a qual o mormonismo precisava restaurar ao seu propósito original. A restauração do evangelho original não podia dispensar uma restauração da maçonaria original.

Naquela manhã, na Escola Dominical, a única coisa que pude fazer foi dizer que Joseph Smith havia se tornado maçom para buscar um conhecimento sobre o templo que ele acreditava estar nela presente. Provavelmente, deve ter sido uma surpresa para muitos que acreditam num processo revelatório em que Deus provê as respostas sem que o ser humano faça seu dever de casa ou busque as respostas à sua volta. No entanto, tenho cada vez mais me convencido de que não há melhor maneira de lidar com a falta de informação do que provendo a informação que falta. Isso deve soar óbvio demais.

A influência maçônica sobre Joseph Smith e os primórdios da Igreja sud não se limitam aos rituais do templo, mas apresentam paralelos na organização do sacerdócio de uma forma mais ampla; também é muito evidente na formação da Sociedade de Socorro, pensada originalmente como uma espécie de maçonaria feminina; e talvez mais importante e menos debatida seja a influência maçônica sobre a tentativa de Joseph Smith de “reformar” os santos em seus últimos meses de vida, proclamando uma religião alicerçada sobre “grandes princípios fundamentais” disponíveis a toda humanidade; temas sobre os quais vou escrever nos próximas semanas.


NOTAS


[1] MCNULTY, W. Kirk. A maçonaria: símbolos, segredos, significado. São Paulo: Martins Fontes, 2007, p. 17.

[2] ALLEN, C. Leonard; HUGHES, Richard T. Illusions of innocence: Protestant primitivism in America, 1630-1875. Chicago: University of Chicago Press, 1988, p. 138.

sábado, 9 de outubro de 2010

A Restauração do Sacerdócio, parte 2

Livro de Mandamentos
Pouco depois de terem chegado à casa de Peter Whitmer, de acordo com depoimentos, Joseph  e Oliver receberam autoridade adicional da mesma forma que a anterior. Agora eles seriam capazes de conferir o dom do Espírito Santo.  Foi prometida à Joseph esta autoridade maior quando ele se batizou, ele estava “ansioso” e “diligente em oração” para recebê-la. Ele explicou como Deus deu-lhe esta autoridade na casa dos Whitmer em junho de 1829:

Nós estávamos por algum tempo empenhados neste assunto em humilde oração e a medida que nós nos reuníamos no quarto superior da casa do Sr.Whitmer para buscar ao Senhor que então buscávamos com todo nosso coração... (Nós) estávamos há algum tempo dedicados em solene e fervorosa oração , quando a palavra do Senhor veio até nós naquele quarto, nos mandando que eu deveria ordenar à Oliver Cowdery para ser o Élder de A Igreja de Jesus Cristo e que ele também deveria me ordenar ao mesmo ofício e então ordenar a outros...
(Nós) fomos, no entanto, mandados a postergar esta ordenação até que pudéssemos ter nossos irmãos que foram e que seriam batizados congregados juntos...Dean C.Jessee, ed., The Papers of Joseph Smith: Autobiographical and Historical Writings (Salt Lake City:Deseret Book  Co., 1989), 1:299.

Esta reunião e as pré ordenações tomaram lugar no dia 6 de abril de 1830, o dia em que a Igreja foi organizada. Dois meses depois um revelação publicada no Livro de Mandamentos fazia referência ao novo e maior autoridade do sacerdócio ao afirmar que “mandamentos foram dados à Joseph, que foi chamado por Deus e ordenado um apóstolo de Jesus Cristo e também à Oliver, que também fora chamado por Deus um apóstolo de Jesus Cristo, um Élder em sua Igreja e ordenado sob suas(Joseph) mãos.”  Em outras palavras, eles receberam o chamado na casa dos Whitmer e ordenado a cada um deles na primeira reunião da Igreja e o grupo autorizou os dois homens a funcionar como élderes. Administração de anjos não foi mencionada. O Livro de Mandamentos continua e explica que um Élder guarda a autoridade de presidir, ordenar outros Élderes e conferir o dom do Espírito Santo. Livro de Mandamentos 24:3-4, 32-35 veja também Doutrina & Convênios 20:2-3, 38-45.

O termo Élder era também na ocasião sinônimo do termo apóstolo e não deveria ser confundido com o posterior ofício ou chaves de apóstolos, ambos somente seriam introduzidos por volta de 1835.

Inicialmente, qualquer um que fosse ordenado a Élder era considerado um apóstolo. O Livro de Mandamentos diz: “Um apóstolo é um Élder.” Livro de Mandamentos 24:32 veja também Doutrina & Convênios 20:38, 21:1, 10-11.

Em uma carta datada de 1830 de introdução de Orson Pratt ao ramo de Colesville, Joseph Smith e John Whitmer chamaram Pratt de “outro servo e apóstolo” Pratt tinha sido recém ordenado a Élder um dia antes. Sidney Rigdon escreveu em 4 de janeiro de 1831:  “Eu lhe envio esta carta por John Whitmer. Receba-o, pois ele é um irmão muito amado e um apóstolo desta Igreja.” Whitmer era um Élder. Ezra Booth registrou em 1831 que Ziba Peterson um missionário que tinha cometido um delito, “foi privado de sua posição como Elder e apostoladoErza Booth a Edward Partridge, 20 de setembro de 1831; Sidney Rigdon aos irmãos de Ohio, 04 de janeiro de 1831 em E.D.Howe, Mormonism Unvailed (Painesville OH, pelo autor, 1834) 110, 208. Jared Carter registrou em seu diário em 1831 que foi ordenado a Élder , “Eu recebi a autoridade de um apóstoloDiário de Jared Carter, setembro de 1831, 35, LDS Archives.

O Livro de Mandamentos indica a autoridade de Joseph para fundar a igreja. Capítulo 24, de junho de 1830 diz que Joseph:
1-“recebeu o perdão de seus pecados”;
2-recebeu o “chamado...para seu trabalho santo” de um anjo que lhe deu os meios necessários para traduzir o Livro de Mórmon;
3-que anjos mostraram o livro à outros que “confirmaram” dele;
4-que a Igreja de Cristo foi organizada em 06 de abril de 1830 e que;
5-no mesmo dia Joseph e Oliver ordenaram um ao outro a Élderes, tendo sido “chamados por Deus” para assim fazê-lo concluindo;
6-“Portanto tendo sido grandes testemunhas, por eles o mundo deverá ser julgado.” Livro de Mandamentos 24:1-12 veja também Doutrina & Convênios 20:1-13, que data de abril de 1830.

Nada ainda sugere de que Joseph e Oliver tinham recebido autoridade através de uma ordenação angelical.

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