Embora os membros da Igreja nos EUA hoje se sintam muito patrióticos, nesse tempo não sentiam tanto. A Igreja enfrentou muita perseguição em quase todos os lugares em que se estabelecia. Quando os membros da Igreja fizeram esforços para conseguir compensação para suas perdas, os líderes da nação rejeitaram os seus apelos. O assassinato de Joseph Smith no meio da campanha para elegê-lo presidente dos Estados Unidos não ajudou o comportamento dos membros.
Assim, no 8 de Novembro de 1845, o Apóstolo Orson Pratt aviso os membros em New York City:
Irmãos Despertam! Sejam determinados a sair desta nação má antes da próxima primavera. Nós não queremos que nenhum Santo fique nos Estados Unidos depois daquela época... A Igreja nesta cidade é para sair, cada um e todos, ao oeste das Montanhas Rochosas entre esta e a próxima temporada, seja por terra ou por água.[1]O líder dos membros em New York City, Samuel Brannan, de 27 anos, anunciou, nos dias depois do Natal de 1845, que tinha fretado o navio Brooklyn, um velho navio mercantil para carregar os santos de New York para "Alta Califórnia."[2] Para pagar o aluguel do navio ($1,200 por mês para uma viagem de 6 meses), Brannan fixou o custo da passagem em $75 por adulto e $37.50 por criança. O navio foi também modificado com 32 camarotes para os passageiros.[3]
Depois dessas preparações, o navio saiu no 4 de Fevereiro de 1846, rota à América do Sul. Já no quarto dia de viagem encontrou dificuldades, pois uma tempestade violenta ameaçou o navio. O capitão do navio, Abel W. Richardson, disse aos seus passageiros que a tempestade era o pior que ele já tinha visto. A tempestade empurrou o navio perto da costa perigosa das ilhas de Cabo Verde, e no porão, os Santos cantaram hinos para tentar abafar o ruído da tempestade. Quando a tempestade finalmente diminuiu, os Santos deram graças ao Senhor, e puseram luto para os sete passageiros, que morreram na tempestade.[4]
No dia 3 de Março, passaram o equador, e as velas ficaram flácidas, sem vento. Durante a calmaria o navio ficou sem mexer e o tempo tinha muito calor e umidade. Finalmente, depois de dois dias, o vento voltou, e o navio seguiu a costa leste da América do Sul até Tierra del Fuego. Durante esses dias três outras crianças morreram. Mas também nasceu um filho a Sarah Burr, a quem ela deu o nome de John Atlantic Burr.[5]
Embora passaram o perigoso Tierra del Fuego sem dificuldades, logo depois, rumo à Valpariso, Chile onde pretendiam comprar mais comida e água, encontraram uma nova tempestade. Nessa a Laura Goodwin, grávida com seu oitavo filho, caiu abaixo de uma escada. A caída causou trabalho de parto prematuro do qual ela e o filho morreram. Antes de morrer, ela apelou à sua família que não a enterrassem no mar, e assim quando o navio, arrastado pela tempestade, aportou na ilha de Juan Fernandez (500 quilômetros ao oeste de Chile), ela foi ali enterrada. O sermão de enterro foi o primeiro sermão Mórmon pregado na América do Sul.
A compra de água e comida na ilha de Juan Fernandez foi muito mais barato do que teria sido em Valpariso, e depois de 5 dias em terra firma, o Brooklyn saiu rumo ao norte e as ilhas Sandwich (hoje conhecido como Havaí). Essa parte da viagem foi muito mais fácil, e os Santos alegraram-se com o nascimento de Georgiana Pacific Robbins, dado o nome 'Pacífico' pelo oceano no qual nasceu, mesmo como fizeram com John Atlantic Burr no oceano Atlântico.
Quando chegaram no porto de Honolulu no 20 de Junho, descobriram que o seu propósito de sair dos Estados Unidos seria frustrado, pois os Estados Unidos haviam declarado guerra contra o México e o navio de guerra Congress estava no porto. Aprenderam que a "Alta Califórnia" estava sendo ocupada pelas forças armadas dos Estados Unidos.[6]
O comandante do Congress encorajou-os para continuar a Califórnia, sugerindo que os Mórmons podiam segurar a vila de Yerba Buena (hoje San Francisco) para os Estados Unidos. Depois de um debate (uns querendo voltar ao leste dos Estados Unidos, outros pensando que seria melhor seguir para Oregon, reivindicado pelos Estados Unidos e pela Inglaterra na época), os Santos decidiram continuar.
O líder dos Santos, Brannan, até pensou que o Brooklyn podia ser o primeiro navio Americano para chegar na baia de San Francisco, e logo depois do 4 de Julho, começou a preparar os homens do seu grupo com exercícios militares. Mas quando o Brooklyn entrou na baia no 31 de Julho, através do nevoeiro viam a bandeira Americana no navio de guerra Portsmouth, o qual chegou três semanas antes do Brooklyn. Ao ver a bandeira, Brannan, desanimado por não ter chegado primeiro, exclamou, "maldita bandeira."
A chegada do Brooklyn alarmou o pessoal do Portsmouth, até que podiam ver que havia mulheres no navio. O comandante do Portsmouth logo entrou no Brooklyn para conhecer os Mórmons e disse-lhes: "Senhores e Senhoras, tenho o prazer de lhes informar que estão nos Estados Unidos."
Os Mórmon entraram na comunidade e a vila logo se tornou quase uma vila Mórmon. Os bens materiais que trouxeram no Brooklyn incluíram as ferramentas necessárias para uma comunidade de 800 pessoas, e as armas, incluindo três canhões, o que alegrou o comandante, que temia um ataque do mar pelos mexicanos. O Brooklyn também trouxe uma biblioteca de centenas de livros e uma imprensa com papel e tinta suficiente para dois anos.
Brannan foi o primeiro líder religioso na comunidade e os membros fortaleceram a economia e desenvolvimento na área. Em Janeiro de 1847, havia já mais de 500 Mórmons na região. Vendo a clima agradável e como os Mórmons já dominaram a comunidade, Brannan logo viajou para encontrar-se com Brigham Young e o grupo principal dos Mórmons (ainda situado em Winter Quarters, Nebraska -- só chegaram no vale do Lago Salgado no 24 de Julho de 1847) para persuadi-los a continuar sua viagem até San Francisco. Mas Brigham Young não concordou.
A guerra com México terminou em 1848, e os Mórmons em San Francisco prosperaram. E Brannan prosperou mais que os outros, tornando o primeiro milionário na Califórnia. Usando a imprensa trazido no Brooklyn, ele fundou o primeiro jornal em Califórnia, o California Star. Continuando a servir como o líder local da Igreja, recebeu os dízimos dos membros, e assim aprendeu sobre a descoberta de ouro perto da cidade. Ele anunciou a descoberta na vila no 11 de Maio de 1848 e imprimiu a notícia no seu jornal, o qual mandou pelo correio para o leste dos Estados Unidos, desencadeando o famoso 'Gold Rush' (Corrida para ouro), no qual milhares de pessoas viajaram do leste dos Estados Unidos para Califórnia na esperança de ficarem ricos.
Enquanto a motivação do Brannan era gananciosa, acabou ajudando a Igreja em Utah. Os viajantes para Califórnia tinham que passar por Utah no caminho a Califórnia, e os membros da Igreja em Utah ganharam muito fornecendo bens e abastecimentos para os viajantes e ganhando os bens pesados que não mais queriam carregar na viagem. Esse Gold Rush também confirmou a decisão de Brigham Young, pois o crescimento de San Francisco era tanto que os Mórmons teriam muita dificuldade em manter a sua sociedade e evitar perseguição.
Em geral os Santos do Brooklyn ficarem por um tempo em Califórnia. No fim, mais ou menos um terço deles imigraram para Utah, geralmente em 1857 em resposta ao chamado do Profeta.
[1]Times and Seasons, 1 Dec 1845; Roberts, B. H., Comprehensive History of the Church, Vol. 3, Ch. 71, p. 39.
[2]Na época "Alta Califórnia" compreendia o que é hoje o oeste dos Estados Unidos -- principalmente os estados de California, Nevada, Arizona, Utah, Colorado e New Mexico.
[3]Everett, Amelia D., "The Ship 'Brooklyn'" em California Historical Society Quarterly, Vol. 37, No. 3 (Sep., 1958), pp. 229-240.
[4]Everett, "The Ship 'Brooklyn'"; op cit.
[5]Tiffany, Scott. "The Voyage of The Ship Brooklyn," The New York LDS Historian, Vol. 1, No. 1, Spring 1998.
[6]Alias, o grupo principal da Igreja ajudou, fornecendo solados para uma Batalhão Mórmon que encaminhou de Winter Quarters, Nebraska, atraves dos estados atuais de Kansas, Colorado, New Mexico, Arizona e California.